capítulo 02 – A denúncia
Aurora estava atordoada ainda agachada e encostada na porta sem saber quantas horas já se havia se passado, até que uma voz vindo ao lado de fora a trouxe de volta a noção de tempo e espaço.
“Aurora, abra a porta! Eu sei que você está do outro lado dessa porta!” Gritou Dafne preocupada, e girou a maçaneta com aflição, depois deu três batidas com as palmas da mão com pressa de encontrar a amiga o mais rápido possível.
Aurora passou a mão no rosto para enxugar as suas bochechas quentes e molhadas pelas lágrimas de desamparo. Só queria achar uma saída para tudo aquilo.
Ela levantou, destrancou, e abriu para Dafne, ela ainda não conseguia dizer nada, e não conseguia disfarçar a sua angústia.
Dafne olhou para ela, logo sentiu o desespero da amiga, e a abraçou forte.
“Ei…” Suspirou profundamente, enquanto a abraçava forte ela sentia o seu desamparo.
Pensou que poderia ter alguma melhora mesmo depois de uma semana de luto, mas parecia que ela estava pior.
“Vai ficar tudo bem, Aurora. Eu trouxe comida!” Aurora apenas abraçou forte de volta.
Aurora sentia sua mente e seu corpo frágil. Todas aquelas palavras do seu pai giravam em pensamentos.
Dafne soltou do abraço dela, e a encarou, percebeu que ela estava aterrorizada.
“Aconteceu alguma coisa? Você falou que ia trabalhar hoje, eu fui até a cafeteria te fazer uma visita, e quando cheguei estavam todos com uma cara igual a sua agora, parecia que tinham acabado de ver uma assombração…depois perguntei se você iria ir trabalhar hoje, e eles me disseram que ‘não’, e depois acresceram que você também não retornaria, por isso corri para aqui!” Depois de falar isso, Dafne percebeu que a expressão de Aurora foi de surpresa para raiva, e ela deu uma leve sacudida em seus ombros, pois esperava uma resposta.
“Meu p-pai…meu pai esteve aqui, Dafne.” Aurora respirou fundo depois de sussurrar essas palavras.
“Como? Eu ouvi direito? O seu pai?” Ela encarou a amiga perplexa, e logo ficou com uma expressão carrancuda.
Dafne nunca tinha visto o pai de Aurora, o que ela sabia dele era o que todos falavam na cidade, e o que Aurora tinha á contado.
Ela sabia que Hanzel Klein era desprezível, e que sua amiga carregava um peso enorme nas costas por causa da reputação dele.
Muitas pessoas da cidade não queriam se aproximar de Aurora por causa disso, e a julgavam com muita maldade, achava que ela também era desprezível. Mas Dafne nunca se importou com esses rumores, e também nunca achou perigoso estar perto dela. Para Dafne o que importava era o valor da amizade que elas tinham.
Aurora balançou a cabeça para amiga ainda assimilando o que estava acontecendo com a sua vida.
Nos seus pensamentos só passava: ‘24h, 24h, 24h, e aquela maldita localização’.
Dafne percebendo a situação dela, levou para a mesa da cozinha, e sentou ela na cadeira. Parecia que sua melhor amiga estava mesmo desorientada, perdida em pensamentos, seu rosto demonstrava o seu desespero. Ela precisava de cuidados.
Ela olhou ao redor da casa e percebeu que o ambiente estava uma completa bagunça. Ela olhava o ambiente e o rosto de Aurora, que fitava o nada, pegou a sua mão por um instante, e percebeu que estava gelada e que tremia.
Dafne suspirou, pegou uma água com açúcar pra ela, e colocou na sua mão.
“Tome, e fique aqui. Vou arrumar a mesa pra nós comermos o sanduíche que eu comprei.” Dafne disse em um tom suave.
Por mais curiosa e preocupada que estivesse, não queria forçar a sua amiga a falar nada, ela compreendia que podia ser difícil pra ela conversar sobre o luto, mas ao mesmo tempo sabia que desabafar poderia aliviá-la.
Aurora percebeu o que amiga pretendia fazer, não era só fazer a mesa, era também organizar aquele ambiente, e logo ela segurou o pulso da amiga, impedindo-a.
“Não precisa se preocupar Dafne, eu vou organizar tudo…por favor…” Aurora tentou soltar algumas palavras para Dafne, mas foi interrompida por um soluço. Estava dominada pelas suas emoções.
Dafne se agachou e olhou para ela.
“Sei que é difícil pra você, mas você precisa me contar o que está acontecendo, se não o que me resta é só ficar mais preocupada! Do nada você me diz que o seu pai vem aqui, e ele nunca fez isso desde que te abandonou, e você também se demitiu…” Dafne olhou ela esperançosa esperando uma explicação.
Aurora hesitou por um momento, porque achava que poderia ser perigoso pra sua amiga caso contasse algo, não queria envolvê-la nos casos do pai. Mas, sabia que Dafne ia continuar insistindo, e não tinha cabeça para inventar ou distorcer o que havia acontecido.
Aurora acabou contando tudo para amiga.
“Que monstro! Vamos fazer uma denúncia!” Dafne exclamou impulsivamente revoltada, e bateu as duas mãos na mesa com força.
“Isso é abuso de menor, Aurora! Por mais que ele seja o seu pai, e o seu “responsável”, ele não pode fazer isso! De forma alguma!” Expressou com raiva, totalmente encabulada com a situação da amiga.
“Denunciar…” Aurora sussurrou para si mesma com uma fita de esperança nos olhos. Depois ela se lembrou de tudo que falavam do seu pai pela cidade, por que ele ainda não estava atrás das celas?
“Denunciar…” Ela repetiu bufando a palavra dessa vez com amargura. Logo, ela colocou a mão em seu cabelo, escorando o seu cotovelo na mesa, e olhou para Dafne cética.
“Sim, denunciar! Hoje ainda!” Dafne continuou insistindo na ideia.
Ela não podia ficar parada vendo a vida da sua amiga desmoronar dessa forma.
“Não faça nada, Dafne. Você não entende? Por que o meu pai ainda não está atrás das grades?” Aurora perguntou com uma voz firme e com os seus olhos nos olhos de Dafne, “Por favor amiga, não faça nada, tá bom? Eu vou resolver isso. Não quero te colocar nessa situação, é perigoso. Não conte pra ninguém, tá?” Ela segurou a mão de Dafne e continuou: “Me prometa.”
Antes de Dafne responder, ela ouviu o estômago de Aurora roncar, suspirou e disse:
“Como eu posso te prometer isso se não consegue nem cuidar das suas necessidades básicas?!” Ela cortou o sanduíche ao meio, e colocou na frente da Aurora.
Aurora continuou encarando ela. “Me prometa, Dafne.” Em sua voz tinha nervosismo, não queria que a sua amiga se intrometesse nisso, pois sabia que não conseguiria impedir as consequências dos métodos do seu pai. Já sabia que era demais ter Dafne como a sua amiga, e não queria colocá-la em problemas.
“Só se você comer, agora!” Dafne retrucou.
Aurora assentiu, pegou um guardanapo, segurou o sanduíche, e mordeu um pedaço. Dafne deu um leve sorriso.
Enquanto saboreavam os seus sanduíches preferidos, ouviram a campainha.
Aurora levantou prontamente, respirou fundo, e pediu pra Deus não ser mais uma surpresa desagradável. Ela destrancou e abriu, e logo ela encarava um buquê de rosas cor-de-rosa enorme em sua frente.
Ela instantaneamente olhou para o entregador: “Desculpe, houve um engano?” Interrogou, não acreditando no que tava acontecendo.
“Senhorita Klein?” O entregador questionou olhando para um pequeno pedaço de papel.
“Sim…sou eu.” Respondeu com autodepreciação.
“O senhor John Foster pediu pra entregar para a senhorita.” Disse o entregador, passando o buquê para os braços de Aurora. “E vejo que fez muito bem, pois vai melhorar o seu rosto abatido.” Completou de forma intrusa.
‘Esse entregador sempre tenta puxar conversa comigo!’ Aurora revirou os olhos, e escutou uma risadinha baixa vindo de atrás dela.
Era Dafne se divertindo um pouco com a situação, logo ela se aproximou e disse ao entregador:
“Já que só isso, nós já vamos nos retirar.” Ela se enfiou na frente de Aurora fechando a porta na cara do entregador.
“Ei, esperem aí!” Exclamou barrando a porta para que ela não fosse fechada. “Tem mais uma caixa de chocolate, e um bilhete. E você também tem que assinar senhorita Klein.”
Ele colocou a mão entre a abertura que ele segurou, e balançou os dois últimos itens que falou.
Aurora pegou, assinou e se despediu rapidamente.
Antes dela fechar, se sentiu sendo observada, ela olhou ao redor da rua, e viu que tinha um Audi vermelho com um homem com uniforme de guarda costas fumando na porta do carro.
Ele parecia distraído com o seu cigarro, mas logo que voltou aos olhos a porta de Aurora, ficou á encarando.
Aurora se sentiu constrangida, e se perguntou se era um dos capangas do seu pai. Ele estava a observando?
“Por que está parada na porta, amiga? Algum problema?” Dafne estranhou a demora para ela entrar.
“Não…não é nada. Só acho que estou sendo observada.” Aurora fechou a porta apreensiva e trancou.
Logo, seus olhos voltaram para as flores que estava em cima da mesinha da sala, e assim que pensou na situação que acabara de acontecer, revirou os olhos.
“Eu não acredito que John não vai parar!” Ela exclamou reclamando.
“Ah…pare com isso, elas são lindas!” Dafne provocou ela. “Pelo menos, vai ter um pouco de cor nessa casa!” Aurora deu um sorriso de leve para a sua amiga, era bom que Dafne enxergava o lado bom das situações.
Então Aurora pegou as rosas cor-de-rosa e colocou no vaso, ela ficou olhando para elas uns segundos, e podia realmente contemplar alguma beleza em algo depois de uma semana.
Logo Dafne veio com um tom de zombaria nos fundos:
“Rosas são vermelhas,
Violetas são azuis,
Mas nada se compara a ti,
Aurora minha luz!”
Dafne caiu na gargalhada ao recitar o poema escrito no bilhete das flores, Aurora não pode se conter com aquela gargalhada, e acabou rindo também.
“Quando ele vai parar, hein?!” Aurora bateu com os pés no chão fazendo birra.
Havia tantas situações para fugir. Pelo menos, dessa ela podia rir um pouco.
“Esses mulherengos sabem o que dizer…por mim ele podia continuar, nós nos divertimos assim!” Dafne deu uma piscadinha animada para Aurora.
“Amiga, você que se diverte! Aliás, por que ele não vai atrás de você? Vocês já ficaram, tenho certeza que ele vem atrás de mim com intenção de te provocar!” Aurora zombou de toda essa situação.
“Eeei!” Dafne chamou atenção da amiga mal-humorada, e continuou:
“Não ficamos não…você sabe o que eu fiz, e ele bem que merecia coisa pior! Coloquei ele em uma ‘friendzone’…ele achou que ia me conquistar naquele dia no cinema e quando ele estava prestes estava prestes a me beijar, falei que ia no banheiro, e nunca mais olhei na sua cara. O que eu fiz foi pouco, ele merecia ter sofrido mais!” Ela deu risada perversa.
“Se bem que isso é foi bem divertido…Principalmente, ver a sua insistência!” Dafne sussurrou entre as risadas pensando alto, e voltou a olhar a Aurora que tava se fazendo de brava com toda aquela situação das flores.
“Vamos, Aurora! Você e eu sabemos porque John age assim, ele só quer tirar a sua virgindade, e se vangloriar com aqueles malditos amigos.” Depois dessas palavras Aurora fez cara de nojo.
Ela se lembrou de todas as perversidades que John fazia com as meninas com as turmas inferiores, e as garotas mais jovens do colégio.
Um dia ela escutou os meninos no fundo quando sentou no meio da sala de aula, eles estavam rindo de uma situação em que John se gabava por fazer uma estudante do ensino fundamental de boba, enquanto eles escutavam gemidos dela no vídeo do celular dele, e os canalhas davam aquelas risadas eufóricas. Quantos vídeos, e quantas meninas sofriam psicologicamente com aqueles abusados? Principalmente, de John.
Aurora revirou os olhos de novo e encarou as flores, ela não enxergava mais nenhuma beleza.
Assim que Dafne reparou, ela disse alto: “Ei, não culpe essas belas flores! Vamos comer esses chocolates caríssimos, e aproveitar dessa situação!” A amiga tentava distrair Aurora.
“Não quero me aproveitar de maneira nenhuma dessa situação, fique com essas flores, Dafne. Não quero fazer parte desse jogo idiota! Detesto isso!” Aurora cuspiu essas palavras com muita raiva.
“Você sabe que quanto mais você rejeitar ele, mais ele vai atrás de você.” Dafne retrucou, tentando ela fazer entender a cabeça daquele mulherengo.
Aurora sentou de novo na cadeira, cruzou os braços e fez beicinho. Dafne viu ela se rendendo e abriu um chocolate pra ela.
“Isso é injusto, Dafne!” Choramingou. Aurora viu o chocolate na sua frente, pegou e comeu um pedaço.
O caso era que Aurora não ia ficar de forma nenhuma com John, mas não queria obrigar a Dafne a ficar com aquele cafajeste também, ela sabia que John só fazia isso para provocar Dafne, era um jogo do tipo: tudo bem, se eu não comer você, posso comer a sua melhor amiga.
“Fique com Nate amiga, assim John desiste de você.” Dafne a cutucou.
“Eu não vou usá-lo dessa forma, Dafne. E também amanhã…” Aurora começou a ficar ansiosa de novo, e virou os seus olhos para o relógio.
A Dafne segurou forte a mão da amiga vendo que ela se lembrou das palavras do seu pai.
Logo ela achou que teve uma brilhante ideia. “E se você se casar com Nate?! Você já teria a sua emancipação!” Dafne disse impulsivamente.
Aurora bufou, e depois soltou uma risada amarga parecendo rir da própria desgraça.
“Ai amiga! Você tem cada ideia!” Aurora se recompôs para olhar para Dafne. “Acabei de dizer que não quero usá-lo, e você vem me dizer em casamento?! Eu te disse que o meu pai falou que eu só ia casar com quem ele quisesse…” Ela cerrou os punhos repetindo essas palavras.
“Colocar Nate nessa situação só vai complicar mais pra mim, vai ser perigoso pra ele. E não conte nada pra ele sobre o que tá acontecendo na minha vida! Afinal, o que ele vai pensar de mim? Que eu decidi viver minha vida em um bordel?” Aurora passou a mão na cabeça enquanto tentava suavizar a dor que ainda sentia da ressaca.
“E o que eu vou dizer pra ele então? Todos os dias ele estava parado na frente do colégio, ele dizia que tava respeitando o seu tempo de luto, mas sempre me questionava como você tava lidando, morrendo de preocupação. Não queria vir até aqui porque você disse á ele que precisava de um tempo sozinha. Fiquei até com pena…” Dafne esperava uma reação da sua amiga com o Nate após dizer o que ele fez durante a semana.
“Ele tem Patrícia. Logo ele vai se acostumar com a minha ausência.” Aurora suspirou triste, “E eu não quero envolvê-lo nisso.” Completou Aurora.
Dafne se frustrou depois que ouviu a amiga.
Ela simplesmente não suportava a ideia de ficar apenas de braços cruzados olhando tudo desmoronando na vida de Aurora. Enfim, Dafne resolveu a voltar distrair ela com outro assunto.
As duas conversaram sobre tudo que estava acontecendo na cidade, sobre séries, sobre a vida de Dafne, tudo que fugisse do que estava prestes acontecer daqui 10hrs.
Quando deu dez horas da noite Dafne decidiu dormir na casa de Aurora. Ela ajudou a amiga a limpar todos os cômodos.
Quando Aurora foi levar o lixo para fora, ela viu que o Audi vermelho ainda estava ali. Mas, eram outros homens.
Os guardas estavam fazendo uma troca de turno para que não deixasse nenhum erro acontecer. Principalmente, o de Aurora fugir.
Assim que deixou o lixo, ela voltou rapidamente, e trancou a casa.
Será que não havia outro jeito? Havia uma forma de fugir? Ela andou de um lado para o outro nervosa. A sua mente estava esgotada.
Fugir? Sim! Mas para onde? O primeiro ônibus da rodoviária? Com qual dinheiro? Não podia ficar sem tentar fazer nada, simplesmente aceitar o que o seu pai estava fazendo.
Dafne viu a inquietude da amiga, logo ela esquentou um leite, voltou para o quarto, e ofereceu pra ela. Deu um tapinha nas suas costas.
“Estou contigo pra tudo, Aurora. Se você tem alguma ideia, me avise, eu quero te ajudar.” Dafne disse suavemente.
“Só estava pensando se tem alguma forma de fugir…mas todas as minhas economias foram para a internação da minha avó. Tem 500 dólares do que ainda mantive para as minhas necessidades desse mês com o pagamento da cafeteria.” Aurora estava refletindo, logo ela franziu o semblante.
‘E se tiver guardas do meu pai na rodoviária só esperando eu fazer isso? Não importa! Eu tenho que tentar.’ Seus pensamentos a faziam tentar dar coragem para agir contra aquilo que o seu pai planejava.
“Eu te dou o que tenho na poupança, Aurora.” Dafne disse com um tom firme.
“Não, nem pensar, não quero que a nossa amizade passe por essas situações de empréstimo. E depois, como eu vou te devolver? Não tem como eu pensar em alguma coisa agora.”, Aurora não queria envolver mais a Dafne nisso.
“Eu te falei que eu te dou. Eu não preciso dele, nem mesmo para a faculdade. Você sabe que o meu pai já tem tudo encaminhado pra mim, ele me dá para lazer. Só que eu sempre guardei as mesadas, nunca achei necessário ficar gastando por aí com coisas que eu não preciso! E agora eu preciso ajudar a minha melhor amiga, então, se você recusar vai estar me ofendendo. Como você pode me deixar apenas observando isso tudo acontecer com você?! Não vou ficar de braços cruzados.” Afirmou Dafne com uma voz alta.
Mesmo com o olhar hesitante de Aurora, Dafne pegou o celular, entrou no aplicativo de banco, achou a conta da sua amiga em seu histórico e fez a transferência de 37 mil dólares para ela. E exibiu o comprovante em sua frente.
“Eu não acredito nisso! Que absurdo! Desfaça imediatamente!” Aurora gritou indo para cima da amiga e tentando pegar o seu celular. Dafne escondeu atrás das suas costas.
“Nossa amizade nunca vai estragar por isso, ela é muito mais forte que isso. Sei que vai te ajudar!” Dafne disse confortando a amiga e bloqueando o celular.
37 mil dólares? Como a Aurora ia pagar isso? Claro que ela não ia aceitar isso de mão beijada.
Vendo que Dafne não ia ceder, ela desistiu de tentar pegar o celular da amiga. Agora ela tinha mais uma dívida.
“Esquece Dafne! Tem guardas ali fora, e deve ter guardas de patrulha na rodoviária, e no aeroporto deve ter também.”Aurora estava pessimista diante da análise de toda essa situação.
“Vamos planejar como se livrar deles, temos a noite inteira para isso.” Dafne se levantou e pegou um papel A4 para organizar o plano.
Sentou na cadeira da mesa da sala de jantar, e bateu as mãos insinuando para que Aurora também se sentasse.
Aurora observou os movimentos da amiga por uns segundos e se sentou ao lado da amiga.
Juntas ficaram à noite planejando. Pesquisaram o primeiro horário do ônibus, e armaram em como distrair os guardas.
Elas não dormiram, às 5 horas da manhã a mala pequena com os pertences de Aurora estava pronta.
“Vamos começar! Vou distrair eles!” Dafne estava com uma blusa com decote saliente, e com dois copos de cafés na mão.
Aurora assentiu. Ela estava nervosa, pensando o que aconteceria se tudo que planejaram fosse por água a baixo.
Dafne saiu da casa e foi em direção ao Audi vermelho, parou em frente à porta do motorista, e deu um leve toque na janela.
Os dois guardas estranharam, olharam para o relógio. ‘5 horas da manhã? Que diabos essa menina quer?’ Logo a janela do motorista abriu.
“Hey, sei que vocês estão aí a muito tempo, eu e a minha amiga não conseguimos dormir hoje à noite, vocês devem imaginar o por quê…não conseguimos dormir essa noite…nós estávamos nos divertindo um pouco…” Dafne pausou a fala, e deu uma risadinha maliciosa. “E eu pensei, por quê não levar dois cafés para eles?” Ela fez uma voz de boba.
Dafne se abaixou um pouco e deixou o seu decote um pouco mais a mostra, e colocou os copos na altura do seus seios. Ela sabia que eles não fariam nada pela a posição importante que a sua família na cidade, por isso não tinha medo de ajudar Aurora dessa forma.
Os guardas se perderam com os olhos no decote de Dafne, enquanto isso, ela mexeu as pernas como sinal para Aurora sair da casa.
Aurora cobriu o seu rosto com o cabelo e foi andando rápido até a esquina na esperança de pegar o primeiro táxi ou ônibus que aparecesse.
Logo o guarda que estava no banco passageiro deu uma cotovelada no braço do outro ao seu lado.
“Não olhe assim para ela, lembre-se de quem ela é filha e para quem estamos aqui.” Alertou o guarda do banco de passageiro ao parceiro.
Logo Dafne se aproximou um pouco, “O que você está dizendo? Não quer aceitar o meu café?” Ela fez uma carinha de coitada, fingiu tropeçar e conduziu o seu corpo pra frente e derramou o café quente no guarda que estava no banco do motorista.
“Caralho! Sua pu…” O guarda gritou em pânico, desesperado com a queimadura na sua barriga, logo ele sentiu outra cotovelada como um aviso para tomar cuidado com as palavras com Dafne.
Afinal estavam ali para vigiar e esperar as 24hrs de Aurora e não arrumar mais problemas.
O outro olhou para frente e viu uma mulher loira parada na esquina esperando. Logo voltou os seus olhos para a casa. E olhou para a mulher de novo que estava entrando no táxi. Logo, ele ligou os pontos.
“Porra! É a Aurora!” Ele apontou na direção do táxi para o seu parceiro ao lado que ainda estava em pânico.
“Corre em direção daquele táxi!” Berrou o homem do banco de motorista.
O outro ligou o carro sem pensar na dor da queimadura, pois as consequências que seria perder a filha do senhor Hanzel seria pior.
Eles foram tão rápidos que entraram na frente do táxi assim que o carro estava partindo a largada para a estrada.
Nos planos de Aurora, ela iria de táxi até a cidade de Scarle, uma cidade próxima que ficava á 400km dali.
Assim que travaram o caminho do táxi, o guarda do banco do passageiro desceu, e arrancou brutalmente Aurora e a mala dela pequena dali. E a enfiou dentro do Audi vermelho.
Ele pegou o celular e discou o número de Hanzel.
Nos fundos dava para ouvir Dafne gritando com uma voz desesperada: “Nããão! Solte ela agora!”
Os guardas ignoraram as súplicas de Dafne, o motorista do táxi deu largada saindo correndo daquele local porque não queria problemas naquela madrugada.
Do carro a Aurora olhou pra a Dafne, e acenou negativamente para ela, era um pedido que ela se afastasse, e voltasse para a sua casa. Não queria causar mais problemas para amiga.
Aurora estava sofrendo, mas de forma alguma queria causar sofrimento para a amiga, e se Dafne tentasse ajudar ela agora as consequências seriam piores.
“Isso não vai ficar assim, vou fazer uma denúncia imediatamente!” Dafne sussurrou para si mesma revoltada com tudo que estava acontecendo na sua frente.