capítulo 10 – Bilhete
Assim que Hanzel ouviu o estouro do tiro na sua frente, ele se deu conta que poderia morrer ali.
“Nós não assinamos nada, e eu pensei que o você estivesse só me enrolando! Ninguém nunca me ofereceu tanto dinheiro! Porém, não se preocupe ela vai estar pronta e em suas mãos amanhã no cartório.” Hanzel tentou dar uma satisfação para sair daquela posição.
“Isso é só um recado, senhor Hanzel. Pra mim, não é uma pequena assinatura que conta, e sim a palavra da pessoa que estou negociando.” Leon estava servindo dois copos de whisky em cima da mesa de centro, enquanto os seus homens ainda mantinham as pistolas apontadas na cabeça de Hanzel.
“C-claro, senhor Leon. Isso não vai se repetir. Eu prometo.” Hanzel disse com pudor, diminuindo o tom de voz.
Ele teria que se redimir para sair daquela posição, então decidiu não provocar mais Leon. Estava em total desvantagem, e só sairia perdendo se o provocasse.
“Não vou dar chance para isso se repetir, senhor Hanzel. Não costumo olhar para trás. É assim que eu trabalho, e não vou hesitar se perceber que o senhor não está honrando a sua palavra.” Leon disse calmamente.
Ele gesticulou suas mãos dando um sinal para os homens retirarem as armas da cabeça de Hanzel.
“Levante-se.” Leon direcionou um copo de whisky para Hanzel levantar e pegar na sua mão. “Vamos brindar a sua promessa.” Ele completou com um sorriso perverso.
Hanzel se levantou em silêncio, se inclinou para Leon, e pegou o copo da sua mão com um sorriso amarelo no rosto.
Os dois brindaram sutilmente.
Quando Leon deu as costas, Hanzel o lançou um olhar cruel. Ele havia sido humilhado por aquele homem no primeiro dia que se conheceram pessoalmente.
Ele poderia ter morrido ali mesmo sem nem mesmo poder se defender. Mas, no fundo estava aliviado por nenhum dos seus capangas ter visto ele ficar de joelhos, seria muito mais humilhante se alguém tivesse visto naquela posição.
Quando Leon pisou para fora do quarto, Freddy se aproximou dele, e disse: “Senhor Leon, Thomas já está no quarto de Aurora a vigiando.”
“E como ela está?” Leon perguntou inexpressivo.
“Ela teve um pico de exaustão, precisa ficar em repouso essa noite, mas para amanhã de manhã já vai estar recuperada para ir ao cartório.” Explicou Freddy.
“A área de eventos já está vazia?” Leon mudou de assunto. Ele queria saber se aquela festa já tinha acabado.
“Sim, senhor. Além dos nossos homens, os seguranças de Hanzel também se apressaram para esvaziar o local. O agressor, Nathaniel Cooper, já foi levado à delegacia, e a vítima, John Foster, está na emergência. Já cuidei para que a imprensa não espalhe nada do que houve aqui essa noite, e também encarreguei de alguns homens do setor da tecnologia cuidarem dos vídeos espalhados pelos internautas.” Freddy informou todos os acontecimentos com prontidão.
“Ótimo, não quero nenhuma repercussão da briga essa noite. Se livre de todos os boletins de ocorrência, e boatos que as mídias publicarão ao percorrer da semana.” Leon disse casualmente.
“Ah…e a última coisa, senhor Leon, o mesmo homem que agrediu John Foster essa noite se apresentou como assistente do médico que examinou Aurora.” Freddy havia reconhecido que o rosto de Nate era o mesmo do assistente do médico que estava no quarto de Aurora alguns instantes atrás, então achou melhor avisar.
“Nathaniel Cooper?” Leon arqueou a sobrancelha, e logo se lembrou do homem que estava ligando para Aurora quando estavam no quarto.
Freddy acenou sutilmente, pegou o celular e mostrou o vídeo do momento em que Nate atacou a garrafa de vidro em John.
Leon cerrou os olhos quando viu o vídeo. Já sabia que as duas famílias se detestavam, e estavam sempre disputando nos negócios.
Mas, por quê algo lhe dizia que a briga entre Cooper e Foster tinha a ver com Aurora?
“Coloque um guarda para acompanhar todos os passos do senhor Cooper á partir de agora.” Leon ordenou, e depois saiu andando para a saída do clube.
Já era três da manhã quando Aurora acordou assustada, ela havia tido um pesadelo terrível.
Percebeu que em seu braço estava com uma agulha, olhou para cima, e viu que tinha sido medicada e havia uma caixa de soro que já estava vazia.
Por quê ela não estava no hospital? Então, ela pensou que o clube se precavia de tudo para que nenhum que trabalhasse ali tivesse que sair durante o expediente.
Quando esfregou os olhos, reparou que tinha um homem uniformizado escorado na porta, e ele estava com um olhar vigilante no ambiente.
“Quem é você? E o que aconteceu comigo?” Questionou Aurora ainda com a voz sonolenta.
“Sou Thomas, e estou aqui por ordens do senhor Leon. Irei permanecer até o horário do casamento. Você desmaiou ontem à noite enquanto estava passando pelo evento de John Foster com Freddy. O seu medicamento e soro já acabou, mas como eu não achei conveniente acorda-lá agora de madrugada, não pedi para que nenhuma enfermeira fizesse um curativo. Iria fazer isso pela manhã.” Thomas disse em um tom neutro situando ela de toda a situação.
“Hum…Entendi. Estou com fome, Thomas. Tem como pedir para a enfermeira fazer o curativo, e pegar algo na cozinha do corredor?” Aurora queria um pouco de privacidade para respirar um pouco sozinha, e mexer no seu celular.
Thomas hesitou por um momento. Ele iria ter que sair do quarto pra solicitar esses pedidos, mas pensou que não haveria problemas, afinal era de madrugada, ela estava fraca e de repouso. O que poderia acontecer?
Enquanto isso, Jessica esperava todo o clube se acalmar, e as mulheres que trabalhavam na categoria A se retirarem, para poder tramar um jeito de deixar o recado de Nate á Aurora antes do amanhecer.
‘Por que ele não poderia ter deixado uma simples mensagem?’ Ela revirou os olhos e olhou para o bilhete dobrado na sua frente.
Entretanto, decidiu que ia cumprir com a sua palavra, talvez no futuro Nate podia ser o seu aliado, e ajudá-la a sair do clube.
Ela saiu do corredor, e havia somente uma luz baixa vindo do chão, era uma luz que indicava que os programas já podiam ser encerrados.
Quando ela entrou na cozinha no final do corredor, viu a enfermeira, que estava em seu horário de intervalo, comendo um pacote de biscoitos e assistindo um programa com o volume baixo.
“Jessica? O que a mantém de pé? Por acaso, ainda está com algum cliente?” A voz de Ranya ecoou da porta da cozinha. Ela segurava uma garrafa de água vazia, e ia até a geladeira.
“S-senhora Ranya?” Gaguejou Jessica, assustada com a voz da mulher. Logo ela teve que improvisar uma desculpa: “O último cliente foi até 2h45min da manhã, levei o meu dinheiro até o fechamento de caixa, tomei banho, e decidi vir aqui buscar um copo de leite quente.” Ela decidiu contar detalhes para que Ranya pudesse acreditar nessas palavras.
“Sei…que estranho, Jessica. O clube não teve muitos clientes hoje para a categoria A por causa do evento do senhor Foster. Não tem homens no clube hoje procurando por serviço, tem certeza que estava atendendo?” Indagou Ranya desconfiada daquela conversa, ainda mais porque tinha visto Nate Cooper saindo do seu quarto mais cedo.
“Decidi ligar para um cliente fixo, senhora Ranya. Ele tinha dito que se caso sobrasse um tempo hoje, e eu ainda estivesse disposta a fazer um programa, era só entrar em contato.” Jessica disse com um tom ansiosa.
“Aé mesmo? E qual é o nome desse cliente fixo?” Ranya se virou a encarando nos olhos.
Parecia que ela estava em frente a um policial numa cena de interrogatório.
“Na…Nathan Ballard.” Jessica disse o primeiro nome que veio à cabeça.
“Senhor Ballard? Hum…muito bom, Jessica. Estou feliz que você esteja tão empenhada para trazer mais lucro para o clube. Melhor você ir dormir, porque essa noite foi longa, não é mesmo?” Ranya pausou a sua pergunta retórica, deu um sorriso de canto, e foi caminhando até a porta.
Visto que Jessica não respondeu, ela se retirou dizendo com uma voz firme: “Boa noite, Jessica.”
Jessica suspirou aliviada assim que Ranya atravessou a porta. E ao mesmo tempo que ela saia, um técnico de enfermagem entrava na cozinha.
“Uuuh…essa mulher me dá calafrios no corpo inteiro!” O técnico exclamou fingindo tremer todo o corpo enquanto olhava as costas de Ranya já distante dali.
Jessica ainda estava paralisada, se perguntando se Ranya tinha a observado, mas logo ignorou esse pensamento, visto que tinha acontecido tantos incidentes no clube essa noite que ela não perderia o seu tempo vendo o que ela estava fazendo.
“O guarda que está cuidando da Aurora Klein quer que você vá lá trocar o curativo, e também disse para levar alguma refeição que está dentro daquilo que o médico receitou.” Jessica ouviu o técnico avisando a enfermeira distraída na TV.
“Ah…sério? Agora? Estou terminando o meu lanche ainda!” A enfermeira disse com moleza enfiando a sua mão no final do saquinho de biscoitos.
“Pois é, ela não pode dar um tempo até de madrugada? E agora é horário também de eu fazer uma pausa.” Reclamou o técnico.
“Você vive de pausas!” Bufou a enfermeira, amassando o saquinho pra jogar no lixo, e se levantando para lavar as mãos.
“Eu posso ajudar vocês! Eu vou com à enfermeira, e você fica aqui curtindo o seu intervalo. Afinal, o seu serviço é só levar a comida, né?” Jessica se intrometeu com um tom educado.
Ela não ia perder essa oportunidade perfeita para entrar no quarto de Aurora e deixar o bilhete de Nate.
Os dois se entreolharam com dúvidas nos olhos.
“Eu só quero ver a filha do senhor Hanzel…todas nós ficamos discutindo como ela é, e não vai ser nada demais, só vou levar a refeição dela no seu lugar.” Jessica deu sorriso fofo para convencer o técnico de enfermagem sentado.
“Tá, só dessa vez! Mas não fique menosprezando o meu trabalho achando que eu só levo as refeições, faço muito mais que isso!” O técnico revirou os olhos, sentou na cadeira, e cruzou os braços.
“Com certeza! Me desculpe, eu não quis dizer isso. É só porque estou curiosa…” Jessica deu um pulinho animado, não se importou com a birra do técnico, e lhe deu um beijo na bochecha.
“Tá! Vamos logo com isso!” A enfermeira arrumou o seu material, e também a refeição de Aurora.
Jessica pegou a bandeja, colocou o bilhete perto do leite de Aurora, e começou a caminhar atrás da enfermeira.
Elas entraram no quarto, e quando Jessica avistou Aurora sentiu inveja. Realmente ela era encantadora, apesar de no momento parecer abatida e fraca.
Ela colocou a bandeja na mesa ao lado.
Jessica ficou observando a enfermeira trocar o curativo, e Thomas percebeu uma aflição no semblante da moça.
“Já terminou? Se sim, pode se retirar.” Thomas inclinou para direção de Jessica com um tom sério.
Jessica se assustou, mas acenou rapidamente saindo do quarto.
Depois que a enfermeira finalizou o curativo, e se retirou do quarto também, Aurora pegou a bandeja e colocou no colo.
Ela realmente precisava se alimentar, olhava com desejo aquela torrada com geleia de frutas vermelhas e o leite quente.
Quando ela pegou o copo de leite, bateu os olhos no pequeno papel, colocou as pontas dos dedos o virando, e logo leu: ‘Abra.’ Com a assinatura de Nate.