capítulo 11 – Não deixe pistas
Aurora abriu o bilhete discretamente em cima da bandeja para que Thomas não percebesse, e nele estava escrito:
‘Aurora, não sei o que aconteceu para você parar nesse maldito clube, mas estou disposto a te tirar dele.
Não me importo se você estiver fazendo isso só de pirraça! Eu não me importo quem é o seu pai! Eu não me importo com a reputação de ficar com você por causa na minha família! Eu só te quero do meu lado!
Eu sei que a gente tem muito que conversar sobre o passado, mas nós vamos resolver tudo.
Eu posso te provar que tudo foi um mal-entendido com Patrícia. Eu só preciso que você confie em mim.
Vamos fugir juntos por alguns dias, longe dessa cidade!
Uma BMW sedan i8 preta com a placa ‘LHJ3241’ vai estar parada nos fundos do clube na esquina A. O motorista vai estar parado lá à partir das 6h da manhã.
Um número desconhecido vai te ligar de uma em uma hora, das 6h ao meio-dia, e quando você atender, significa que já estará pronta pra entrar no carro e ir de encontro comigo.
Você tem que agir rápido, pois sei que havia alguns guardas do senhor Leon Ferri dentro do clube nessa noite. Mas, depois te explico sobre tudo isso no nosso encontro, não pergunte e não comente nada com ninguém.
Eu não vou estar nesse carro, porque provavelmente o horário que você estiver dentro dele, estarei resolvendo um problema na delegacia.
O motorista levará você diretamente para minha casa no interior, à 150km de Watervill.
Será uma viagem de 1h e meia no máximo, mas não se preocupe, eu estarei lá na hora do brunch.
Faça isso antes do meio-dia.
Depois de ler, queime ou jogue na privada esse bilhete. Não deixe pistas!’
Aurora olhou em sua volta em transe após ler o que estava escrito, e sua cabeça estava lotada de perguntas: ‘Como Nate foi parar no clube ontem à noite? Como ele sabe dos guardas de Leon? Por que ele está na delegacia? Como ele enviou esse bilhete? Será que fugir com ele era uma saída? Como ela ia despistar Thomas que vigiava cada um dos seus movimentos? Como ela chegaria até a entrada do clube?’
Ela pegou o papel colocou dentro da sua mão, e fechou os punhos. Ela disfarçava o seu estado de aflição bebendo o leite devagar.
Talvez fugir com o Nate fosse a sua única saída para aquilo que estava prestes acontecer essa manhã, o casamento com Leon Ferri.
Por mais que ela e Nate tivesse os seus conflitos, não seria tão difícil de resolver, comparado ao que ela teria que lidar com Leon no futuro.
Logo, veio em sua mente como Leon a tratou no quarto. E o seu corpo estremeceu só de lembrar. A sua bunda ainda doía quando fazia movimentos na cama. Será que ele estava usando toda a sua força, ou será que aquilo era só uma amostra?
Com certeza, a última coisa que queria era ser casada com um homem igual á Leon.
Era quase certo que a sua vida seria um verdadeiro inferno se cedesse a esse casamento.
Será que essa seria a única chance dela não se casar com Leon e sair das mãos do seu pai?
Talvez se ela explicasse toda a sua situação para Nate, ele a ajudaria de alguma forma, pelo menos, até quando ela completar maior idade.
Então, ela decidiu que ia dar um jeito de entrar naquele carro para fugir com Nate.
“Já terminou, senhorita Klein?” Thomas se aproximou, olhando para bandeja com o copo e prato vazios.
“Hã? Ah…sim…sim. Já terminei.” Ela despertou do seu momento de transe, colocou a bandeja em cima da mesa ao lado da cama, e deu um sorriso com os lábios forçado para Thomas.
“Certo. Já vou pedir para virem recolher.” Thomas disse categoricamente.
Ele certamente já tinha estranhado a menina que estava quieta demais, e submersa em seus pensamentos.
“Vou ir ao banheiro agora. Será que você poderia ficar na porta do lado de fora do quarto? Gostaria de um pouco de privacidade.” Aurora pediu.
“Não posso ficar fora do quarto, senhorita Klein. Tenho ordens de monitorar até mesmo as suas ligações, mas não se preocupe comigo, não vou te incomodar. Te aconselho a voltar a dormir, e descansar um pouco mais, você terá que estar no cartório por volta das 11h da manhã.” Thomas disse voltando para a porta.
Aurora olhou para o relógio, e agora já era 5h da manhã, mas ela não tinha sono.
‘Como vou distrair Thomas?’ Ela pensou pegando a sua toalha de banho, roupa, e caminhando até o banheiro.
Assim que trancou a porta, ela jogou o bilhete na privada, e deu descarga.
Depois entrou na banheira, e preparou um banho quente. Ficou lá mais de quarenta minutos. Decidiu que ia ficar muito tempo no banheiro para evitar contato com Thomas.
Ela secou o seu cabelo, fez um penteado, colocou pouco maquiagem, passou um hidrante no corpo, e depois se vestiu.
Quando estava prestes abrir a porta, percebeu que o seu celular começou a vibrar, quando olhou viu que era o número desconhecido.
Ela não atendeu, ainda não tinha conseguido despistar a atenção do guarda, e não estava preparada.
“Tá tudo bem aí, senhorita Klein?” Thomas deu uma leve batida na porta do banheiro.
“Claro! Já estou terminando.” Aurora respondeu.
‘Agora ela tinha tempo para tomar banho? Leon tinha ordenado isso também?’ Aurora pensou, franzindo a testa.
Aurora saiu do quarto, se ajeitou na cama, fingindo que ia voltar a dormir. Ela se virava de um lado para o outro.
“Thomas, eu estou com muita sede. Vou até a cozinha encher uma jarra de água, e trazer aqui para o quarto.” Aurora disse, levantando da cama.
“Pode deixar, eu peço pra alguém buscar pra você. Espere aqui.” Para Thomas era mais seguro deixar ela dentro do quarto, do que acompanhá-la até a cozinha.
“Tá tudo bem, e peça pra trazerem mais um copo de leite, eu ainda estou com fome.” Aurora revirou os olhos vendo que ele não ia deixar ela sair do quarto.
Thomas assentiu, e saiu do quarto.
Aurora esperou alguns minutos para sair do quarto e foi em direção oposta que Thomas havia ido.
Ela dava passos acelerados para o elevador, até que uma mão a agarrou, e puxou para um quarto do corredor. Jessica trancou a porta rapidamente.
“Se você está tentando fugir achando que é somente desaviando daquele guarda, então você é muito burra! O que estava escrito no bilhete?” Jessica deduzia que Nate pediria para Aurora sair do clube em algum momento. Será que ele era o seu primeiro cliente?
Aurora olhava pra aquela garota desconhecida, apavorada, e implorou: “Por favor, não me denuncie! Eu preciso sair daqui, eu não quero viver essa vida!”
Jessica estava confusa.
Não era a própria filha de Hanzel Klein que tinha pedido para vir trabalhar aqui após a morte da sua avó? Pelo menos, era assim que contavam nas fofocas.
“O que estava escrito no bilhete?” Jessica perguntou novamente.
“Como você sabe do bilhete?” Aurora ainda estava assustada, e andava para alcançar a porta novamente.
De repente, elas ouviram a voz de Thomas, abrindo uma porta do começo do corredor, gritando: “Você viu a senhorita Klein?”
Elas olharam uma para outra e sabiam que se ele pegasse elas aqui, estariam encrencadas.
Jessica empurrou Aurora para o seu armário rapidamente, pois ela sabia que Thomas já estava próximo do seu quarto.
“Fique aqui, e não faça nenhum barulho!” Ela sinalizou com as mãos ‘silêncio’ para Aurora.
Quando ela fechou a porta do armário, ouviu fortes batidas de soco na sua porta.
“Estou averiguando o quarto de todas as mulheres, abra a porta!” Thomas gritava do lado de fora.
Jessica abriu a porta, e esfregou os olhos. Ela fingia que tinha acabado de acordar de um sono profundo.
“Por acaso, você não tem educação? São 6h e meia da manhã, e eu preciso dormir para estar bem para os programas de hoje! Eu não estou em horário de serviço agora!” Jessica bocejou.
Thomas ignorou a reclamação, empurrou ela da sua frente, e entrou no quarto, olhando por todos os cantos.
Depois de não ter encontrado nada no quarto, entrou no banheiro, e logo depois, verificou atrás das portas, debaixo da cama, e quando estava perto do armário dela, Jessica o perguntou:
“Desculpe, mas posso perguntar o que está acontecendo?”
“Por acaso, você conhece Aurora Klein?” Thomas não ia contar que perdeu de vista Aurora, isso era vergonhoso para ele.
“Ah…a filha do senhor Hanzel? Sim, já ouvi falar dela.” Jessica estava tentando distraí-lo para ele se afastar da porta do armário.
Thomas olhou bem pra a mulher que estava á sua frente, e reconheceu que ela estava no quarto de Aurora instantes atrás. Ela estava levando a bandeja com a refeição de Aurora.
“Não era você que estava ajudando a enfermeira a trocar o curativo?” Thomas perguntou com desconfiança.
Jessica franziu o lábio, e seus olhos vagaram por um instante. Esse guarda realmente não era dos do Hanzel, os guardas dele eram mais fáceis de enrolar.
“Sim, eu fui lá somente para levar a refeição. Por acaso, eu estava finalizando o meu serviço aquele horário, encontrei o técnico de enfermagem que estava na cozinha junto com a enfermeira, e ofereci ele uma ajuda, porque ele estava tirando o seu tempo de intervalo.” Explicou Jessica.
“Como é o seu nome?” Questionou Thomas.
“Jessica.” Ela respondeu rapidamente.
“Jessica, se caso você encontrar a senhorita Klein vagando por aí, entre em contato comigo imediatamente. Pode ter certeza que irei te recompensar!” Thomas entregou um cartão com o seu número na mão de Jessica. E achou melhor sair, porque já estava perdendo muito tempo naquele quarto.
“Tudo bem, Thomas! Se eu encontrá-la, vou fazer isso no mesmo instante. Só por curiosidade, qual o valor da recompensa?” Jessica fixou os seus olhos nas costas do homem.
“Te garanto que será o dobro do valor que você fez se esforçando essa noite.” Thomas disse fechando a porta de Jessica.
‘Será que ela vai me denunciar?’ Aurora pensou, cerrando os dentes. Ela ainda estava imóvel e escondida dentro do armário.