Capítulo 15 – Requinte de luxo passageiro

Chegando na entrada da mansão, Aurora ficou impressionada com a dimensão do jardim.

Era tudo muito bem cuidado, a grama mantinha um verde vívido mesmo sendo outono.

Quando entrou na casa, Nancy se aproximou dela, e a cumprimentou com educação:

“Boa tarde, senhora Ferri. Me chamo Nancy, sou a governanta. O senhor Leon ordenou para que eu te leve até o quarto para descarregar as suas coisas pessoais.” Ela abriu um sorriso gentil.

“Boa tarde, Nancy. Obrigada! Pode me chamar de Aurora, por favor.” Proferiu Aurora no mesmo tom cordial que Nancy.

Para ela, era estranho ouvir alguém se referindo a ela com esse sobrenome. Não gostaria se acostumar com esses tratamentos. Pretendia sair desse matrimônio assim que conseguisse entrar em um consenso com Leon.

Nancy apenas assentiu ao ouvi-la, e começou a andar para a escadaria.

Aurora seguiu Nancy até o primeiro andar, e entrou no quarto. Tinha uma decoração clássica de um quarto de hóspedes: uma cama de casal, uma janela pequena para entrar luz natural, closet pequeno embutido com um espelho modelando toda peça, uma escrivaninha no canto, e um pequeno banheiro privativo.

Aurora deu um baixo suspiro. Ela estava aliviada em saber que não dormiria no mesmo quarto que Leon.

“O senhor Leon pediu para que eu trouxesse você até aqui para se acostumar a dormir na mansão nessa primeira noite.” Disse Nancy andando em direção a cortina para abri-la.

Aurora sentou na cama, e colocou a sua pequena mala, que continha alguns dos seus pertences pessoais, ao seu lado.

Respirou fundo, e ficou quieta apenas por um momento, sentindo a luz do Sol aquecendo a sua pele.

Nancy observava em silêncio aquela mulher com o vestido de noiva, salto alto, quase inclinando todo seu corpo para trás sentada.

A luz natural bronzeando-a, a deixava mais bela, era difícil não achá-la amável pela sua figura atraente.

Será que o tratamento que Nancy receberia da filha de Hanzel seria agradável da mesma forma como era olhar para a sua aparência?

Nancy decidiu que o melhor a se fazer era ficar de olhos bem abertos, e atenta com o comportamento de Aurora, como Leon tinha a alertado.

“Acreditei que chegaria cansada, por isso, a água da banheira já está aquecida, tem uma toalha, e roupão de banho em cima do armário no banheiro. Para todas as suas necessidades higiênicas, há itens embalados e novos na estante do lavatório. Todas as roupas que o senhor Leon mandou comprar para você, já estão limpas, e passadas dentro do closet, e os sapatos, sandálias, e saltos ficam na parte de baixo. Não sei se a senhora…perdão, Aurora…vai querer dormir após o banho, mas se tiver fome, é somente descer as escadas, virar à esquerda, seguir reto, e esperar na sala de jantar, que você será bem servida. Alguma dúvida, Aurora?” Nancy disse categoricamente.

Ouvindo tudo aquilo, Aurora ficou boquiaberta, não podia deixar de se sentir incomodada com tanta mordomia. Ela não nunca foi tratada com tanto apreço.

“Agradeço por tudo isso, Nancy. Mas, não é necessário se preocupar tanto assim com o meu bem-estar, posso me virar…só basta eu me adaptar.” Aurora disse envergonhada.

‘Quem sabe, eu não poderia trabalhar igual uma das empregadas para não ter que viver o papel de esposa de Leon?’ Ela pensou consigo mesma.

“Não precisa agradecer, Aurora. Eu só estou fazendo o meu trabalho, e cumprindo ordens do senhor Leon.” Nancy à olhava sorrindo.

Aurora apenas sorriu de volta como resposta, e Nancy achou melhor dá-la privacidade, então ela se retirou dali pedindo licença educadamente.

Ao ver que estava sozinha ali, Aurora esfregou a testa se sentindo exausta fisicamente, emocionalmente, e mentalmente.

Foram tantos acontecimentos essa manhã, e finalmente a adrenalina da sua circulação havia desaparecido, e agora ela tava se dando conta de tudo que passara nas últimas horas.

A fuga do clube. A insanidade de Patrícia. Salvar Jessica. O casamento. Nate. Seu pai. Dafne. 37 mil dólares. 100 milhões de dólares! A primeira noite com Leon Ferri. Leon Ferri. Senhora Ferri.

Ela apertou os seus punhos se lembrando de tudo.

Será que Jessica estava em boas condições? Será que Nate realmente iria estar esperando para eles fugirem? O que aconteceu com Dafne?

Tudo isso inundava na mente de Aurora. Ficou deitada por 30 minutos até se dar conta de onde estava novamente.

Ela se levantou, foi até o closet, e se encarou no espelho. Já tinha se esquecido que ainda estava com aquele vestido branco.

Logo, tratou de tirá-lo rapidamente, porque ele significava uma mancha na sua história.

Ela continuou se olhando no espelho para visualizar o seu corpo, virou de costas, e percebeu que tinha um pequeno hematoma na curva da sua bunda.

Aurora estremeceu, recordando dos olhos frios de Leon no casamento a encarando sério, sem nenhuma expressão.

Fez uma prece baixa pedindo para que ele não aparecesse essa noite.

Ela temia que seu marido fosse cobrá-la algo mais íntimo, e também se lembrava das suas últimas palavras da noite passada: ‘não vou mais fingir estar te comendo’.

Os seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do seu estômago que roncou alto.

Ela entrou no banheiro, tirou as suas peças íntimas, e mergulhou todo seu corpo naquela água morna.

Enquanto tentava relaxar, cantarolava uma música para distrair os seus pensamentos.

Rose, por causa do pedido da sua mãe, Nancy, decidiu ir verificar se Aurora estava dormindo, ou se ela precisava de alguma coisa.

Mas, quando entrou no quarto percebeu que estava vazio, e ela só identificava um canto da voz feminina vindo do banheiro.

‘A filha daquele parasita já está querendo envenenar os cantos da mansão com essa voz! Tomara que Leon consiga executar tudo que quer há tanto tempo sem ter nenhuma piedade!’ Rose fez uma carranca enquanto pensava.

“Mamãe, cadê ela? Estou curiosa! Será que terei uma nova amiga para brincar de esconde-esconde?” Uma mão pequena balançou o uniforme de Rose.

Rose pegou a sua filha, Tina, no colo e disse: “Escute bem o que a mamãe vai te dizer: não se envolva, e não aceite nada vindo dessa voz que você está ouvindo. Ela não é a sua amiga! Entendeu?”

“Mas ela canta tão bonito, mamãe! Escute! A mamãe pode cantar assim quando a Tina for dormir?” A criança abriu um grande sorriso.

“Nem tudo que aparenta ser belo, é bom, Tina.” Rose encarava a filha seriamente.

“Tá bom, mamãe!” Apesar dela não entender o que a sua mãe quis dizer, Tina deu um beijo na bochecha em sua mãe. “Posso voltar a brincar?” Ela perguntou tentando sair do colo, balançando as pernas.

“Tá, mas não vai sair correndo por aí! E você sabe qual é área permitida para brincar! Você estava seguindo a mamãe?! Menina custosa!” Assim que Rose colocou a filha no chão, saiu apressada atrás dela.

Aurora ouviu vozes femininas, de uma mulher e criança, vindo do seu quarto, então ela terminou o seu banho, colocou o roupão, mas quando saiu não encontrou ninguém.

Ela achou que era coisa da sua cabeça, e continuou seguindo para colocar uma calcinha e sutiã, e por fim, escolher uma roupa.

Ela ainda estava assustada com a quantidade de roupas e sapatos que havia no closet, e se assustava ainda mais quando conferia as marcas de grife.

Tinha muitos vestidos, saias, casacos, blusas de seda, outras com detalhes de renda, outras com bordados diferenciados, e com pedras brilhantes, outras com design e recortes únicos, roupas esportivas, blasers, e também havia uma parte para acessórios.

Quando ela percebeu que praticamente não havia calças jeans, e nem mesmo de tecido, revirou os olhos.

Era impressionante o fato das numerações, e tamanhos das roupas e sapatos serem os certos. Leon era observador a esse ponto? O que mais ele sabia sobre ela?

‘Calma, Aurora. É só a numeração. Não entre em paranóia! Ele deve ter pedido para Thomas conferir enquanto estava no quarto vigiando!’ Ela pensou esfregando a mão em sua testa, e ficou corada enquanto imaginava o guarda mexendo nas suas roupas junto com as suas peças íntimas.

Ela decidiu que não ia colocar nada que estava naquele closet.

Abriu a sua mala com os poucos pertences que havia trazido da sua casa, e colocou uma calça jeans cor escura que modela bem as suas pernas, um cinto branco simples que realça a curva da cintura, calçou um tênis casual branco, e uma blusa lilás com manga longa.

Ao menos agora, ela podia se sentir confortável vestindo o que acostumava. Não ia ceder a todo esse requinte de luxo passageiro.

Aurora ouviu o seu estômago roncar de novo, e decidiu que ia fazer assim como Nancy havia a orientado.

Entrando na sala de jantar, Aurora percebeu um movimento estranho entre as cadeiras, e uma risadinha baixa.

“Você não me pega!” Era a voz abafada de uma criança.

Aurora abaixou o olhar para observar entre as cadeiras, e encontrou a pequena menina olhando para suas pernas.

“Ei, menininha! Quem é você? Quer brincar de esconde-esconde? Já vou te avisando que eu sou muito boa!” Aurora resolveu se distrair, entrando na brincadeira infantil.

“Psiuuu! Você não me pega!” A menina se moveu entre as cadeiras, desafiando Aurora.

“A-ha! Te achei!” Aurora se agachou ficando de frente de Tina, e as duas deram uma gargalhada.

“Ah não acredito!” Tina cruzou os braços, fazendo beicinho. “Vamos tentar de novo?” Ela completou perguntando dando um sorriso inocente.

“Claro, mas antes me diga o seu nome, menininha!” Aurora também sorriu.

“Meu nome é Tina! E o seu, titia?” Os olhos de Tina brilhavam, ela podia sentir que a mulher que estava na sua frente era boa, diferente do que a sua mãe dizia à poucos minutos atrás.

“Aurora.” Ela respondeu.

“Então tá bom titia Aurora! Vamos brincar! Peguei você! Sua vez!” Tina saiu correndo induzindo Aurora entrar na sua brincadeira e correr atrás dela.

“Ei, espera! Devagar, se não você pode se machucar!” Aurora disse em um tom alto, e correu atrás da menina.

Quando Aurora alcançou ela, percebeu que as duas já estavam dentro da cozinha.

“Tina! O que a mãe disse? Você só pode brincar na área permitida! Não é pra brincar dentro da mansão!” Gritou Rose, parada atrás da criança, repreendendo-a.

“Ah, mamãe! Não é justo! Lá tem mais espaço, e tem mais lugar para se esconder!” Tina estava se defendendo.

“Nem pensar! Você está de castigo!” Rose a olhava brava.

“Não se preocupe! Ela não estava fazendo bagunça, eu a encontrei entre as cadeiras da sala de jantar, entrei na brincadeira, e cuidei para ela não se machucar ao correr até aqui.” Aurora decidiu explicar a situação, afinal a criança só estava se divertindo um pouco.

“Viu, mamãe?! Essa é a minha nova melhor amiga!” Tina exclamou com felicidade se esquecendo que a sua mãe tinha dito que estava de castigo.

Rose encarou Aurora por um instante, afastou a filha, enquanto dizia:

“Tina, não te ensinei bons modos? Solte-a agora! Ela é a senhora Ferri! Esposa de Leon!”

Tina olhou com olhos arregalados para Aurora.

“Sério?! Do titio Leon? Por isso ela é tão linda, mamãe! Parece a princesa daquele filme que eu sempre assisto!” Tina exclamava emocionada.

“Aulora! Aurola! Não…Au-ro-ra. Isso…Aurora…desculpe, ainda estou aprendendo a dizer novas palavras. Você vai ficar aqui com a gente, né?! Não vai ser igual o titio que vive viajando?! Vamos brincar muito né?!” Tina estava eufórica ao imaginar ter Aurora todos os dias brincando com ela, ela balançava as pernas de Aurora de um lado para o outro.

“Tina, pare de perturbar Aurora. Rose, leve ela para tomar um banho.” Ordenou Nancy, que já estava ali preparando a cozinha para a janta, mas ela decidiu se intrometer ao ver que a filha não estava conseguindo conter a agitação de Tina. Então, ela afastou a criança das pernas de Aurora.

“Ela não perturba! Na verdade, você é muito fofa, Tina! Vou adorar ter você como minha amiga! Pode ter certeza que se tiver como, separarei um tempo para brincarmos juntas, combinado?” Aurora se agachou, e estendeu a sua mão para Tina.

Por um momento, Aurora sentiu que as suas aflições tinha passado, pois a criança que estava à sua frente tinha a distraído com a sua inquietude e inocência. Ela enchia o ambiente com a sua doçura e astúcia.

Tina, ao invés de apertar a sua mão, não aguentou, abraçou-a, e deu um beijo na sua bochecha.

“Obaaaaa!” Tina gritou animada.

“Olha, Tina, mas você tem que combinar que vai obedecer o que a sua mamãe disser, tudo bem?” Aurora disse suavemente olhando a exaltação da menina.

“Ah…tudo bem.” Tina quando ouviu Aurora, se acalmou, e baixou um pouco a cabeça se sentindo culpada, e depois virou para a sua mãe, que a encarava com uma careta.

“Desculpa, mamãe!” A menina murmurou olhando para baixo.

“Vamos lá para os fundos, depressa!” Rose disse firmemente, a encarando com um olhar de reprovação. Antes que Tina respondesse, Rose foi a retirando dali.

Aurora ficou de pé, e estranhou a sensação que tivera no seu coração ao olhar Rose tratando a criança. Mas, ignorou, pois achou que talvez isso fizesse parte da educação que a sua mãe lhe dava.

Então, Aurora colocou os seus olhos em direção do balcão americano, e andou até lá.

Seus olhos procuravam ovos, farinha, sal, temperos, fermento, leite, e outros ingredientes para começar a preparar um lanche.

“Aurora, é só você pedir o que quer comer, que eu preparo imediatamente.” Nancy disse se aproximando.

“Pode deixar, Nancy. Eu mesma posso fazer a minha refeição. Aliás, quero comer aqui na bancada da cozinha.” Aurora disse enquanto pegava os ovos para começar a preparar panquecas.

Aurora cozinhava com a sua avó desde criança, na verdade, aprendeu a cozinhar desde os 6 anos de idade.

Era comum ela cozinhar para a sua avó e para a sua mãe enquanto elas estavam fora, por isso, ela sabia manusear muito bem todos os utensílios da cozinha, e tinha conhecimento de cortes, técnicas, e receitas. Para ela, cozinhar era algo natural, e um hábito. Mas sempre que podia, gostava de aprender novas receitas e técnicas.

Nancy se impressionou com a rapidez da garota com ao organizar o balcão, e com o olho dela para acertar a quantidade certa que levava a receita que preparava.

“Aurora, você sabe cozinhar?” Nancy perguntou curiosa, pois achava que a menina ia ser desleixada, principalmente porque agora estava casada com um homem que se ela quisesse ela não precisaria nem se levantar da cama.

“Sei algumas coisas. As mais simples. Bom…devo dizer que a minha vó me ensinou boa parte do que sei da cozinha.” Aurora falou com modéstia.

“Você parece ter prática.” Nancy a observava. Ela parecia estar em perfeita sintonia com o que fazia.

Quando Aurora finalizou os ovos para comer com as panquecas, e desligou o fogo da geleia da mistura de mirtilos, framboesas, amoras, e morangos frescos que tinha preparado para acompanhar.

Ela percebeu que Nancy a observava com uma expressão de surpresa enquanto cozinhava. Quando Aurora finalizou a comida, a governanta colocou um prato na sua frente.

Então, Aurora colocou a comida no prato, e se sentou para comer. Ela devorava a comida rapidamente.

“Daqui 3h é a janta, e o senhor Leon vai vir hoje. Tem alguma comida que quer comer em específico?” Nancy se aproximou de Aurora perguntando.

“Não sou muito exigente, Nancy. Aliás, posso te ajudar a preparar o jantar.” Aurora respondeu.

Seria bom para que ela ocupasse o tempo cozinhando, e que ela sempre comesse as refeições longe de Leon.

Assim que terminou de comer, se levantou, e começou a limpar todos os utensílios que usou.

“Não se preocupe em fazer nada, Aurora!” Nancy entrou na sua frente subitamente, pegando a panela de suas mãos.

“Isso não é nada, Nancy. Deixa eu continuar!” Ela deu um sorriso de canto, e continuou limpando.

Nancy suspirou, e a soltou. Achava inconveniente impedir a garota de fazer o que queria, afinal ela era a mulher da casa agora.

Nancy foi em direção do cômodo que continha na cozinha que era guardado alimentos frescos, e itens de mercearia em grande estoque. Voltou, trazendo diversos ingredientes para o jantar.

“Aurora, como esposa do senhor Leon, acho melhor você conhecer mais sobre a sua alimentação. Ele segue uma dieta de alto teor calórico, pois tem acompanhamento para manter o seu corpo na melhor performance. Portanto, tem horários bem definidos para as refeições, e tem que ser conforme as opções que são exigidas no cardápio do plano alimentar. Ele sempre exige que os alimentos sejam frescos, e de boa qualidade. Não gosta de comida requentada, congelada, industrializada, e muito processada.” Enquanto explicava Nancy colocava na frente à lista de alimentos, e com as receitas que Leon era acostumado a comer, e nela também especificava horários, e as quantidades.

Aurora secou as mãos, e pegou a lista da mão de Nancy.

Enquanto Aurora lia a lista, Nancy percebeu uma figura alta, era Leon, entrando com passos silenciosos na cozinha, quando ela estava prestes a cumprimentá-lo, ouviu Aurora com o tom de deboche:

“Parece que eu tenho um marido enjoado! Pensei que ele comia de tudo!” Ela deu uma risada baixa.

“Então você pensou certo, eu como de tudo mesmo, só que em grandes quantidades.” A voz de Leon paralisou Aurora, e ela engoliu seco.