Capítulo 16 – Memória Afetiva
Naquele instante, Aurora só queria se esconder em um buraco.
“Já que está com tanto tempo para falar mal de mim por aí, não vai se importar em gastá-lo cozinhando todas as minhas refeições, substituindo todos os alimentos por uma receita nova diariamente, não é mesmo?” Leon avançou para ficar mais perto dela.
“Desculpe, eu só estava verificando a sua lista. Podemos entrar nessa condição, eu faço as suas refeições, sem problemas.” Aurora assentiu, corada.
“Sobre as suas condições, isso nós vamos discutir no jantar. Esteja pronta para se sentar comigo na mesa às oito horas em ponto, e esteja minimamente apresentável. Se por acaso, você quer fazer algum tipo de protesto não vestindo as roupas que estão no seu closet, saiba que todas elas estarão queimadas amanhã quando você acordar, e a única peça que vai sobrar é essa que você tá vestindo agora, então pense bem antes de me desafiar.” A voz de Leon era um gelo, assim como a expressão no seu rosto. Ele a forçou a se virar, e ficar de frente para olhá-lo.
Aurora franziu a testa por um segundo ouvindo tudo aquilo, e percebeu que ele não estava de brincadeira. Ela não sabia como reagir, pois ainda estava se sentindo desprevenida.
“Me responda, não fique bancando a estátua!” Leon percebeu que iria ter que controlar bem a sua paciência com essa mulher, ela ainda insistia parecer inocente. O que ela pretendia conseguir ao continuar se comportando dessa forma?
“Sim, eu estarei na mesa de jantar às oito, e depois que eu deixar pronto a refeição, vou subir, e colocar uma roupa para ficar apresentável, senhor Leon.” Aurora disse com cordialidade. Se perguntou até quando ia conseguir aguentar para não se abalar com aquele tratamento.
“Mãe, coloquei Tina para dormir, o que vamos preparar para a jan-“ Rose falou em voz alta, ao mesmo tempo que entrava na cozinha, sem perceber a presença de Leon.
Quando Rose olhou em sua volta, assim que viu ele, um grande sorriso formou em seu rosto, e ela colocou uma mecha do seu cabelo para trás.
“Senhor Leon, pensei que voltaria somente para o jantar! Vou te preparar um café.” Rose disse com a voz mansa.
Leon não prestou atenção na chegada de Rose, e sem tirar os olhos de Aurora, ordenou: “Nancy, Rose, vocês podem finalizar o trabalho mais cedo. Aurora vai preparar todo jantar pra mim sozinha!”
“Sim, senhor Leon. Mas, tome o café primeiro.” Rose já estava começando a preparar o café.
“Não é necessário se ocupar com isso, Rose. Vocês podem já se retirar.” Leon se moveu para olhar para as suas.
“Entendido, senhor Leon. Vamos Rose!” Nancy gesticulou para apontando para saída para a filha.
Rose olhou para baixo com desânimo, e seguiu a sua mãe.
“Espero que na sua imaginação fértil não esteja planejando em colocar algo na comida que me desagrade propositalmente, tome muito cuidado com o que for usar para preparar.” Leon voltou a olhar Aurora com desdém.
“C-claro que não! Não pense essas coisas de mim, te garanto que houve entre nós até agora não passou de um mal-entendido.” Aurora tentava se defender com a voz fraca. De alguma forma, ela se sentia culpada com Leon lhe encarando daquela forma. Talvez, ele ainda tivesse se sentindo desconfiado por causa daquele estilete.
“Não houve nada entre nós dois.” Leon apenas afirmou essas palavras, levantando o seu queixo.
‘Como ele pode me dizer isso depois de me fazer ficar naquela posição e me humilhar daquela forma?’ Aurora bufou em seus pensamentos.
“Sim, senhor Leon, e eu prefiro que não haja nada. Podemos manter a distância. Não sei quais são as suas intenções desse acordo com o meu pai, mas-“ Aurora já queria introduzir o assunto. Ela achava que poderia aproveitar a presença dele ali, achava que poderia resolver tudo sem precisar ir para o jantar.
“Isso não depende de você, e das suas preferências. Você está perdendo tempo tentando me convencer de que não sabe das minhas intenções! Deveria aproveitá-lo para começar a cozinhar, aliás uma das condições que vamos discutir no jantar hoje é a pontualidade, então não comece causando uma má impressão. Não sei se você lembra, mas hoje é a noite de núpcias.” Leon disse virando as costas para a saída da cozinha. Não queria mais ouvir as suas difamações.
‘Não duvido que o seu pai e você não queiram tirar mais aproveito desse casamento.’ Ele pensou enquanto já subia em direção ao quarto. Pensar no que Hanzel era capaz de fazer apenas pela sua ganância lhe dava mais ódio. Com certeza, o pai e a filha já tinham algum plano para arrancar tudo que pudessem.
Quando entrou no quarto, olhou para o porta-retrato que estava seu pai, mãe, irmão e irmã, em uma época que não nenhum sofrimento na família, só os problemas comuns.
Ele respirou pesadamente, mas logo desviou o olhar para não ser inundado por aquelas memórias obscuras, visto que elas desencadeavam mais a sua ira, e trazia à tona as suas emoções mais atormentadas.
Na cozinha, Aurora já preparava as guarnições que ela ia fazer com o prato principal do jantar. Ela tinha decido que ia ser uma massa fresca para preparar a receita de filé mignon à carbonara.
Ela deixou tudo pronto na cozinha para que ela pudesse descer uns minutos antes do jantar depois e finalizar. Quando saiu da cozinha, foi à sala de jantar, preparou a mesa posta, e subiu para o quarto para se arrumar.
Ela achou melhor não desafiar Leon, por isso, ia escolher um vestido do closet. Estava determinada em ter uma conversa pacífica, não queria distrações obstantes, ou que ele desse uma repreensão desnecessária.
Depois de se arrumar, ela finalizou todo o jantar, e levou para a mesa 5 minutos antes do que Leon tinha dito que ia começar a reunião.
Leon havia saído de novo, mas quando bateu o horário que havia mencionado, ele já estava entrando na sala de jantar.
Ele não podia negar que carbonara era um prato muito especial, pois a sua mãe, que tinha origem italiana, fazia quase todos os finais de semana, então ele guardava uma memória afetiva dessa comida.
Inexpressivo, ele se sentou em silêncio.
Observando a sua chegada, Aurora já estava sentada esperando alguma reação ou palavras. Mas, Leon só fitava tudo com os seus olhos sombrios, que se qualquer indivíduo ousasse encara-lo por um segundo naquele momento, poderia ver uma certa melancolia.
No fundo, Leon estava surpreendido pelo capricho que Aurora teve, mas ele sabia que se despertasse alguma comoção por ela, isso o levaria a ruína.
“Senhor Leon, tem algum problema? Não gosta de massa? Eu imaginei que pela origem do seu sobrenome ser italiano, estivesse acostumado com esse tipo de comida.” Aurora inclinou o rosto para ele, e perguntou ansiosa. O silêncio dele a provocava uma tensão em todo seu corpo.
“Então, é assim que pretende conseguir o que quer? Me prendendo pelo estômago?” Leon cerrou suavemente os olhos, e começou a se servir.
“Eu nunca pensei nisso!” Ela respondeu rapidamente, e continuou: “Aliás, como senhor tem tanta certeza sobre o que eu quero?”
Leon não a respondeu, apenas deu a primeira garfada na massa fresca para saborear a comida. Aurora se frustou por ser ignorada, olhava toda aquela comida sem nenhum apetite.
“Por acaso, envenenou a comida e esta com medo de se servir?” Leon a encarou com descaso.
Aurora franziu a testa, e quando estava prestes a retrucar, ele a interrompeu:
“Se sirva logo! Pare de fazer drama, se por acaso necessita de um elogio para saciar o seu ego, eu não me importo em dizer: a sua comida está saborosa! Mas, você acha isso o suficiente? Deixa eu te lembrar que você só esta aqui porque paguei 100 milhões de doláres!”
Aurora olhou assustada para seu marido depois dele mencionar a quantia, ela hesitou por um momento, antes de se servir calada. Não queria causar um transtorno antes mesmo de questionar as razões de Leon. Assim que se serviu, respirou fundo, e começou a comer.
“Senhor Leon, por favor, podemos começar de novo?” Aurora perguntou cautelosamente assim que finalizou o seu prato.
“Retire a mesa, e traga um vinho com duas taças.” Leon disse com indiferença.
“Senhor Leon, me desculpe, mas eu não bebo.” Aurora já deduzia que Leon tinha segundas intenções já que ele tinha mencionado mais cedo que era a noite de núpcias.
Mas, mesmo assim, ela ia fazer o máximo para que nada mais íntimo acontecesse entre eles. Não queria expandir mais do que deveria essa noite, só tinha a finalidade de conseguir ter condições plausíveis, acreditava que quanto mais distassem estivessem, iriam viver em harmonia.
“E quem disse que é pra você?” Leon retrucou, e deixou um ar misterioso.
Aurora se perguntava o que ele pretendia. Será que ele havia trago mais alguém para se juntar à eles na mesa?