Capítulo 04 – Falsifique o Acordo
Aurora se deitou na cama para descarregar o corpo.
Ela estava muito cansada da noite passada, entretanto, não conseguia pregar os olhos porque tinha muitas preocupações em sua mente.
E mesmo com todas elas, ela tentava focar em ligar para Dafne, pois ainda não tinha nenhuma notícia do seu paradeiro, e quanto mais ela tentava, e não tinha resposta, mais agoniada ficava.
Quando ela mandava mensagens ela via que só tinha um risco de enviada no aplicativo. Imaginou que a amiga estava sem sinal no telefone. Ela pensava que podia estar desligado, sem bateria, no modo avião…ou será que poderia ser algo pior?
Ela suspirava ansiosa e nervosa. Os seus olhos ficavam em cima do ponteiro do relógio.
Ela estava assim desde a conversa com Ranya, não queria imaginar do que essa mulher era capaz de fazer. Isso estava subindo a sua cabeça! Tudo que queria era sair daquele lugar o mais rápido possível.
Batidas fortes na portas interromperam a agonia que estavam os seus pensamentos.
“Q-quem é?” Aurora soluçou, e sentou assustada.
“Vim te buscar, senhorita Klein. Está pronta?” Aurora conseguia notar uma voz travessa de Ranya.
Ela olhou para o relógio e sussurrou para si mesma: “13h50min…” Depois, ela ouviu de novo uma voz mais rígida.
“Abra logo essa porta ou terei que pedir ajuda de algum guarda?” Ranya mexeu bruscamente na maçaneta.
Aurora pulou no susto, correu para porta, e abriu.
“Não senhora Ranya, não quero problemas, me desculpe! Eu só estava desamassando meu uniforme para poder começar.” Aurora sorriu sem graça, mexendo nas suas roupas, mas não conseguiu disfarçar que estava pasma.
Ranya ignorou a sua desculpa, e olhou com desdém para Aurora: “Seja pontual, ou haverá consequências “princesinha”.” Ela zombou na última palavra.
Aurora engoliu seco, e olhou para baixo.
Não sabia como lidar com aquela mulher. Quanto mais próxima Aurora ficava dela, mais desconfortável ela se sentia.
Ranya virou de costas, e disse firmemente: “Vamos, me siga! Você tem que saber de algumas coisas antes de começar.”
Aurora hesitou em dar o primeiro passo, mas ela não tinha escolha.
O que aconteceria se ela desobedecesse aquelas ordens? Na verdade, Aurora não sabia até onde o seu pai iria com os planos que tinha para ela.
Ranya dava passos largos elegantemente até a área da sala de reuniões, elas tiveram que passar por corredores, e um elevador para chegar até lá. Aurora estava confusa com esse clube, para ela era um grande labirinto, seria difícil se familiarizar com tudo isso.
Elas entraram em uma sala com luzes de led roxa, e nela tinha enorme adega, estantes com diversas bebidas, grandes freezers e geladeiras, estantes de madeira com caixas de umidificadores de charutos, e também continham diversos tipos de tabacos. Havia lindas cristaleiras com diversos e diferentes copos para bebidas.
Logo, Aurora pode observar um homem acima do peso, com a barba mal-feita, calça jeans larga, e uma camiseta que tinha um furo evidente na sua manga, ele estava organizando todas as bebidas e fazendo uma contagem de estoque que parecia um hábito de rotina.
“Olá senhora Charlotte! Precisa de algo?” Ele disse com desinteresse e sem tirar os olhos do que estava fazendo.
Ranya pigarreou querendo chamar atenção de Tony, mas aquele homem não se importava com nada, e nem com a presença de ninguém, apenas era um desinteressado, fazia o seu trabalho preguiçosamente, e corria como uma lebre quando batia o seu horário de expediente, deixava claro que não tinha nenhuma ambição. Estava ali somente para ter um trabalho, e pagar as suas contas.
Ranya não se importava com o jeito de Tony, mas por estar do lado de Aurora, queria que todos a notassem e a tratassem de forma majestosa. Ela queria mostrar que perto da sua presença, Aurora não passava de uma formiguinha indefesa.
“Tony, na minha presença, você deve olhar para mim e parar qualquer coisa que esteja fazendo, pois exijo o total da sua atenção!” Ranya exclamou com um tom autoritário.
Ela revirou os olhos, e continuou: “Trouxe Aurora Klein, filha do senhor Hanzel, e hoje ela vai começar trabalhando de garçonete nas reuniões, e à noite no evento. Portanto, ensine ela o quê servir, separe whisky, gelo, e selecione um bom charuto cubano. Ela vai começar servindo uma reunião muito importante com o bilionário Leon Ferri, o maior empresário na indústria de entretenimento, artistas, mídia, enfim, seu leque de investimento são em diversos nichos. Ele pode investir uma fortuna hoje, e devemos servir o muito bem. Se Leon não sair satisfeito, o senhor Hanzel perderá uma grande quantia, e com certeza, não vão querer ver o senhor Hanzel de mal-humor! Saibam que uma das coisas que ele mais odeia perder no mundo é dinheiro!” Enquanto Ranya avisava, lançou um olhar ameaçador para Aurora.
Tony terminou o que estava fazendo, olhou para as duas, e percebeu que Aurora estava tensa. Todavia, para ele aquilo era normal, era o seu primeiro dia aqui, e Ranya sempre pressionava á todos sempre que tinha oportunidade.
Só que dessa vez, tinha mais potência na voz de Ranya, como se ela estivesse esperando por dizer essas palavras há muito tempo.
“Tudo bem, farei como a senhora pediu!” Tony disse categoricamente.
Ele rapidamente foi para o freezer, e preparou copos em cima do balcão, e perguntou: “Que horas vai começar a reunião?”
“Começou às 14h. Eles ainda estão se cumprimentando. Vá no salão dentro de 15 minutos, senhorita Aurora, e peça o que eles deseja. E também fique atenta: sempre que solicitarem a presença da garçonete, irá aparecer no painel.” Respondeu Ranya para Tony, mas seus olhos ainda estavam fixos em Aurora.
“Sim, senhora Ranya.” Aurora disse em tom baixo, ela estava tentando se manter serena mesmo com aquela pressão.
Talvez aquela seria oportunidade dela conversar com o seu pai em algum intervalo, e tentar reverter a sua situação, afinal ela não tinha nenhuma experiência, como ele tirar alguma vantagem dela?
“Tony, eu não vou poder acompanhar o trabalho da senhorita Aurora hoje, então faça um relatório para que depois eu possa passar para o senhor Hanzel, ele quer saber como a sua filha está se comportando.” Ranya abriu um sorriso astuto, esperou até Tony concordar, e foi a direção da porta.
Depois de ver que Ranya foi embora, Tony bufou e disse: “Sempre me pergunto no primeiro dia de trabalho de todas essas mulheres que Ranya me trazem: o que a fez querer essa vida?” Ele parecia indignado com o próprio pensamento.
Aurora quis abrir a boca para defender a posição que se encontrava, mas do que adiantava? Ninguém confiaria nela se dissesse que estava ali obrigada pelo próprio pai, e mesmo se alguém confiasse, o que eles poderiam fazer quanto a isso? Eles só seguiam ás ordens dele. Preferiu ficar calada observando Tony organizando o balcão.
Tony percebeu a indiferença em Aurora após dizer essas palavras.
‘Essa é mesmo filha de Hanzel! Muitas tentam se defender quando eu falo isso, e ela nem mesmo se importa!’ Tony pensou caminhando para a prateleira de whisky, e começou a selecionar os melhores charutos cubanos, e depois colocou dentro de um pequena caixa de madeira.
Olhou para a Aurora, e começou a explicar o quê e como ela iria servi-los, e também falou sobre manter os bons modos.
Tony reparou que ela mexia os dedos nervosamente enquanto ouvia tudo muito atenta.
Quando ele terminou de explicar, se inclinou para ela pedindo para reproduzir tudo como ele havia mostrado. Ele a encarou e percebeu a aflição no seu rosto.
Aurora foi em direção do balcão, e começou a reproduzir tudo que tinha escutado de Tony. Porém, quando estava terminando de reproduzir, esbarrou o cotovelo em uma garrafa de whisky atrás dela no balcão sem perceber, a garrafa acabou se estraçalhando no chão fazendo um barulho estrondo.
Ela ficou sem reação por alguns segundos, olhou em sua volta para procurar um material de limpeza rapidamente, enquanto Tony gritava:
“Toma cuidado garota desmiolada! Se isso acontece na reunião, Hanzel não se importaria te humilhar na frente de todos que estão presentes!” Tinha um pouco de irritação na sua voz enquanto observava ela trazendo o material de limpeza.
“Foi um acidente! M-me desculpe Tony, vou ficar mais atenta.” Aurora já estava agachada limpando todos os cactos. Por estar com as mãos tremendo e muito tensa com a situação, se cortou no palmo da mão sem perceber, ela gemeu bem baixinho com o corte superficial, mas não se importou com a dor, e continuou limpando.
“Merda! Já vi que você só vai me dar mais trabalho! Lave isso depressa, depois eu vou chamar alguém pra terminar o serviço.” Tony agarrou o braço forçando ela levantar, enfiou a mão dela na torneira para ela começar a lavar aquele sangue na mão.
Aurora esfregou e pressionou para parar de sangrar. Os olhos dela se desviava para o relógio, o painel, para a porta, para Tony, e para sua mão.
Rapidamente ele pegou um kit primeiro socorros no armário banheiro do local, limpou o seu machucado e colocou um band-aid.
Do outro lado, Hanzel ouviu o estrondo vindo da sala da adega, separada apenas por uma porta divisória da sala de reuniões, ele sabia que Aurora já estava lá sendo orientada por Tony.
“Aquela garota estúpida! Deve estar quebrando todas as bebidas!” Ele interrompeu a negociação com Leon na sua frente para resmungar com raiva.
“Dante, peça pra aquela tonta trazer bebidas e um bom charuto para o senhor Leon! E diga que se ela não estiver aqui em 5 minutos, eu vou ir pegá-la e arrastá-la pelos cabelos por todo clube!” Gritou Hanzel com uma irritação clara na sua expressão.
Leon o encarava calmo, esperando aquela explosão mesquinha passar para que ele pudesse retomar a negociação.
Ele sabia que o ponto fraco de Hanzel era que ele agia conforme o seu humor, era um homem com o pavio extremamente curto, e esse comportamento já dizia muito sobre como ele lidava com os negócios, com o dinheiro, com os parceiros, e com clientes.
No fundo, Leon sentia tanto nojo que se pudesse já executaria Hanzel nesse exato momento, mas não arruinaria tudo que planejou durante anos por uma emoção repentina.
“Você sabe como é né senhor Leon?! Funcionária nova…” Hanzel deu um riso baixo zombando dessa situação. Ele estufou o peito agindo como se estivesse muito orgulhoso da forma que tratava seus funcionários.
Leon continuou sério como se não se importasse para o que tinha acabado de acontecer, e disse sem rodeios:
“Senhor Hanzel tenho interesse pelo o seu negócio, pois estou aumentando o investimento no mercado sexual em todos os grandes centros dessa região, Watervill, Conder, Grafton, e os interiores aos arredores, o giro e a demanda daqui é o maior do país, e eu sei que você é o responsável pela a maioria dos clubes e bordéis, você e o grupo Yang…” Leon pausou, e percebeu Hanzel rangendo os dentes quando mencionou o seu rival, enquanto acendia um cigarro.
“E o que me garante que você não está investindo uma grande quantia nos dois? E o que me garante que você não quer investir aqui somente para infiltrar em todo o negócio e depois ajudar o grupo Yang?” Hanzel disse cuspindo as palavras, colocando o seu olhar em Leon, e soltando a fumaça.
Leon deu um sorriso de canto, se inclinou levemente em direção do Hanzel, olhou para o relógio em seu pulso, e depois voltou a olhar Hanzel com firmeza, demonstrando serenidade e despreocupação.
“Em cinco minutos, algum dos seus guardas irão te alertar que um dos seus clubes que dão mais faturamento aos arredores de Conder está sendo atacado pelo o grupo Yang. Sei disso porque tenho contatos que são bastantes influentes com eles, e pedi algumas informações a respeito do seus planos de negócios. Descobri muitas coisas, inclusive o que eles tinham em mente nessa tarde, por isso enviei alguns homens que já estão em posição, nesse exato momento, para acabar com isso antes mesmo que comece um estrago, e você tenha que arcar com prejuízos desnecessários. Mas, o senhor tem que decidir se vai confiar em mim, porque eu não darei a ordem se caso nenhuma decisão seja tomada em 5 minutos…4 à partir de agora.” Leon disse em um tom baixo, calmo e continuou olhando ele firmemente. Depois voltou os seus olhos ao relógio.
“O que?! Como eles ousam? Vou acabar com a raça deles! Não vai sobrar nenhum pra contar história! Filhos da puta!” Hanzel explodiu de raiva, e começou a fumar mais rápido, bateu na mesa com um soco, e jogou a sua bituca no cinzeiro.
Leon o fitava calmo, esperando a sua resposta.
Hanzel voltou os seus olhos para Leon, apesar de estar extremamente incomodado com o controle dele sobre essa situação, sabia que ele não estava blefando.
Ele sabia que se aceitasse o movimento de Leon, estaria aceitando a sua garantia e lhe dando um voto de confiança. Mas, estava odiando estar na mão dele. Estava até pensando se compensava passar pelo prejuízo, ao invés de ceder para Leon. No seu dia-a-dia era ele que se divertia em manipular toda a situação com as pessoas, mas agora estava em frente de um homem que era muito maior, em todos os aspectos, comparado ao que ele tinha.
“Dois minutos…” Leon disse no mesmo tom calmo pressionando Hanzel.
“Será que esse não é só mais um dos seus truques de negociação?” Hanzel perguntou rapidamente olhando para o relógio.
“Essa é uma oportunidade única senhor Hanzel, quer pagar pra ver?” Importunou Leon, cerrando os olhos.
“Senhor Hanzel, a ‘encomenda’ está passando por Cond-“ Um guarda decidiu alertar, todos percebiam a tensão na sua voz.
“Cala a boca, como ousa se intrometer em uma negociação? Acha que eu sou burro? Levem esse crápula daqui, batam nele até que ele não consiga mais ter fôlego pra não interromper mais as minhas reuniões!” Hanzel virou e olhou para o guarda enfurecido com muita raiva.
“Senhor, não faça isso comigo, perdão! A minha família necessita que eu continue trabalhando! Só estou te alertando, Ranya esta indo naquela direção para conferir a encomenda!” Os gritos de desespero do guarda ecoava pela sala, enquanto era levado a força pelos outros dois guardas.
Hanzel ignorou o guarda que implorava, e notou que Leon continuava na mesma posição, olhando para o relógio e depois para ele.
‘Merda, esses filhos da puta vão atrasar a ‘encomenda’ e ainda me causar prejuízo!’ Hanzel pensou pressionado pelo tempo.
“Merda! Vou te dar essa chance.” Hanzel disse com arrogância olhando Leon de cima.
Leon apenas acenou para Freddy, e ele entendeu muito bem o que devia fazer.
Hanzel observou esses gestos, revirou os olhos, pegou mais um cigarro, e se lembrou que Aurora ainda não tinha aparecido para servir nada, ficou mais entorpecido pela raiva ao pensar nisso, logo quando estava prestes a explodir de novo, um guarda foi ao seu lado e lhe sussurrou a notícia no seu ouvido sobre a ligação que acabara de ter sobre o ocorrido no clube de Conder.
Ele soube na mesma hora que todos os movimentos do grupo Yang foram parados imediatamente pelos homens de Leon, decapitando todos que estavam no local para invadir, e isso aconteceu antes mesmo que alguém se alertasse de algum movimento estranho naquele clube.
Hanzel não pode conter um sorriso vitorioso nos lábios, como se ele mesmo fosse responsável por aquele plano bem-sucedido.
“Isso é bom pra eles nunca mais quererem aparecer no meu território.” Hanzel comemorou orgulhoso.
Ficou saboreando o seu cigarro por um minuto, se sentindo glorioso.
Depois caiu em si, e viu que Leon estava com um documento em suas mãos, e com a mesma calma que estava no início dessa reunião.
Hanzel pigarreou, e percebeu que nada estaria assim se Leon não tivesse arquitetado tudo à tempo.
“Então, estou satisfeito com a sua garantia de confiança. Acho que começamos bem, senhor Leon. Qual é a sua proposta de investimento?” Hanzel se inclinou com interesse para a direção de Leon.
‘Esse inútil nem sequer leu a proposta de investimento antes da reunião…Ótimo, assim será muito mais fácil de dominar tudo que ele têm.’ Pensou Leon com nojo de estar na frente desse verme, imaginava a sua cara estrangulada sempre que o encarava.
“Á princípio, 100 milhões e 35% de todo o faturamento de todos os clubes.” Leon passou o documento ao outro lado da mesa em direção ao Hanzel. Um guarda entregou na sua mão.
“35%?” Bufou Hanzel.
“Senhor Hanzel, o que eu estou oferecendo é muito mais do que qualquer outro investidor seria capaz de lhe proporcionar, não é só o dinheiro, claro que irei aumentar o seu lucro em uma quantia inimaginável, mas isso é só o mínimo. Além de trazer os melhores shows, mais dançarinas com padrões reconhecidos internacionalmente, artistas, etc…Além de toda publicidade e marketin-“
“Licença, senhores.” Uma voz feminina acanhada e tímida tomou o som de todo ambiente.
Leon olhava para a mulher vestida de garçonete. Ela andava em direção a mesa carregando uma bandeja com whisky e charuto, e estava com a cabeça baixa.
‘Aurora? Como ela pode tá fazendo isso? Merda! Nessa família são todos iguais! Vermes! Claro que ela ia tomar o mesmo caminho do seu pai, como eu pensava ao contrário?! Só bastou a avó dela falecer…’ Leon pensou consigo mesmo, fechou os punhos que estava embaixo da mesa, fitou ela surpreso por um segundo, depois voltou com a mesma expressão neutra, a encarando com olhar rígido.
“Vadia! Não sei como tem coragem ainda de aparecer depois de toda essa demora!” Hanzel gritou furioso com ela do seu lado.
“Pai não me envergonhe, já não estou fazendo o que você pediu?” Aurora falou baixo constrangida, colocando os copos na mesa, e servindo para os dois, e depois colocou a caixa de charutos no centro, ela estava inclinada um pouco para baixo enquanto servia.
“Está me respondendo? Você ainda não aprendeu a lição?!” Hanzel pegou Aurora pela sua mandíbula, esmagando a suas bochechas, forçando ela olhar para ele.
‘Que bela encenação!’ Leon bufou em seus pensamentos, e revirou os olhos.
“Me solte, está me machucando! Podemos conversar mais tarde, por favor?” Aurora não conseguia se afastar para trás, porque o seu pai tinha a pegado de surpresa esmagando as suas bochechas, cravando os seus dedos na sua mandíbula, e trazendo o seu rosto pra frente.
Leon encarava a cena do pai e da filha, olhava os olhos cheio de lágrimas de Aurora, e ainda não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo.
Sabia que não deveria estar surpreendido, pois já era de se esperar que aquela mulher também fosse tão estúpida e gananciosa como o seu pai.
Ele tinha investigado tudo sobre a vida de Hanzel, sabia que tinha uma filha única, sabia que ela morava com a avó, e que a sua mãe tinha falecido quando tinha doze anos, e já tinha mesmo as suspeitas de quem e a causa da morte, mas não tinha levado adiante a investigação, pois não queria incluir a filha de Hanzel em seu plano de vingança.
Mas, agora vendo que após a morte da sua avó ela estava aproveitando a oportunidade para se aproximar do seu pai, e usar o seu corpo para satisfazer e conquistar mais recursos, se sentiu mais anojado. O rosto de Leon se tornou mais sombrio. E não parecia haver mais nenhum sentimento de comoção e pena daquela mulher que estava vestida de garçonete agora.
Logo, ele se lembrou do seu ‘plano A’, ele tinha desistido dele depois de perceber que não devia envolver Aurora, pois a considerava inocente, afinal não era culpa de ter um verme como pai, mas já que estava aqui, querendo se tornar tudo aquilo que o seu pai é, trabalhando em um clube, cedendo a passar por uma garçonete, e depois experimentar a promiscuidade, e a luxúria, por que não voltar ao plano A? Já que ele facilitava muito mais a destruição de tudo que Hanzel Klein tinha.
Ela era a sua filha única, e ele não tinha nenhuma esposa. Leon também já sabia de toda a sua procedência com o seu testamento, e como Hanzel era um homem descuidado, ele não se assegurava dos seus bens como devia, achava que a única segurança era não ser casado.
“Você está se rebelando contra mim mais uma vez? Que barulho foi aquele? E essa demora para servir? Nós já estamos terminando a reunião! Acha que eu preciso das suas desculpas?” Hanzel perguntava cuspindo ódio na cara de Aurora.
Ele apertava mais a sua mandíbula, e ela começou a ficar com a pele marcada pela sua força.
Ela fechou os olhos, se sentindo humilhada.
Sentia que estava sendo observada por todos daquela sala, e parecia que o que estava sentado à frente do seu pai negociando a encarava profundamente parecendo que ia comê-la viva. Todos que estavam a sua volta pareciam lobos famintos.
“Nã-“ Aurora foi interrompida por mais um grito de Hanzel.
“Não me responda sua vadia! Como você pode fazer aquilo de manhã? Acha que consegue me enganar só por quê tem o meu sangue?” Hanzel bateu no rosto de Aurora na frente de todos, expondo a sua fúria, e fazendo entender que ninguém escaparia de suas mãos, nem mesmo a sua filha.
Aurora se desequilibrou e caiu no chão derrubando a bandeja vazia que segurava.
Nunca tinha sido tão humilhada em toda a sua vida. Será que daqui pra frente só seria assim? Como ela poderia escapar da mão do seu pai? Aquele tapa e violência do seu pai demonstrava que o seu inferno só estava começando.
Leon se sentiu muito incomodado quando viu aquele homem batendo em Aurora, mas logo pensou: ‘Enganar?! Ela tentou enganar o seu pai? Deve ser mesmo do feitio desses vermes!’
Ele continuou com a sua expressão calma esperando Hanzel finalizar aquela peça.
“Senhor Leon, vamos retomar, aproveite o que essa dissimulada trouxe para nós, para finalizar com chave de ouro o acordo. Você tinha dito 35% de todo o faturamento?” Hanzel voltou a olhar para Leon, fazendo uma careta de desgosto quando repetia ‘35%’, ignorando a existência de Aurora.
Aurora tentava se recompor rapidamente, juntando a bandeja no chão, passou os seus dedos finos e longos no canto da sua boca para limpar o sangue que fez escorrer com o tapa.
Ela engolia seco sempre quando as lágrimas começavam a querer surgir no seu rosto. Não sabia mais aonde poderia tirar forças pra lidar com toda aquela situação, queria sair dessa sala o mais rápido possível.
“Os senhores desejam mais alguma coisa?” A voz de Aurora saiu trêmula, tinha medo de que se não perguntasse isso, iria sofrer mais alguma implicância.
Hanzel continuava a ignora-la por completo, esperando uma resposta de Leon.
Leon encarava a vermelhidão e inchaço do seu rosto, era difícil não demostrar nenhuma emoção naquele momento, então voltou os seus olhos para Hanzel.
Aurora entendeu o silêncio como um não, pediu licença, e foi dando passos fracos em direção da porta.
“Acho que vou melhorar o acordo para você senhor Hanzel…” Leon encarava as costas de Aurora, e desviava o seu olhar para as suas pernas, seu quadril, sua cintura, e ficou observando o seu andar. Ademais voltou os olhos para o homem que fumava rápido.
“100 milhões por 35% de todo o faturamento? É realmente acho que você deveria pensar mais sobre essa porcentagem…Reduzir 35% do meu lucro interfere muito no que preciso manter por aqui senhor Leon…” Hanzel provocou ansiosamente, queria tirar mais alguma vantagem, sabia qual era o tamanho do peixe que estava na sua frente.
“Você disse que aquela mulher tem o mesmo sangue que você? Ela é a sua filha?” Leon perguntou tranquilamente.
“Sim, não ligue para o que aconteceu aqui senhor Leon!” Bufou Hanzel e continuou: “Eu estava apenas ensinando uma lição. Temos que ser firmes com mulheres, se não elas acabam fazendo o que querem!” Hanzel exclamou. Ele tinha intenção de dar mais um conselho podre sobre mulheres e casamento.
“Aumento o meu investimento para 160 milhões, pelos os mesmos 35% do faturamento e a mão da sua filha em casamento. Vamos fechar o acordo?” Leon colocou as suas mãos em cima da mesa.
Aurora que estava prestes a cruzar a porta, parou ao ouvir a voz grossa e firme de Leon dizendo ‘a mão da sua filha’, e ela se virou novamente para encarar a negociação daqueles dois homens.
Hanzel deu uma gargalhada alta.
“Aumentou 60 milhões para casar? Não pensei que vender o corpo dessa menina aconteceria tão rápido!” Essas palavras saíram abafadas com a sua risada. Ele exclamava a última frase para si mesmo.
Leon voltou os seus olhos para a moça parada na porta, agora ele estava com uma cara de asco enquanto deixava Hanzel se divertir com essa situação.
Ele viu Aurora olhar para o seu rosto, e então os seus olhares se cruzaram rapidamente, e depois ela olhou para o chão se sentindo intimidada.
“Sei que o senhor Ferri é um grande investidor, mas não acha que ela me renderia muito mais aqui no clube com o passar do tempo? Tenho muitos clientes dispostos a passar noites com meninas inexperientes, aliás essas são as que dão mais retorno, eles pagam mais as quais foram “menos usadas”, essa é uma das razões que separamos em categorias, e também claro, pela beleza. E ela sendo a minha filha qual homem que não gostaria de colocar o pau dentro dessa boquinha rosada e dizer “estou comendo a filha do senhor Klein” para toda essa cidade? Quanto você acha que eu conseguiria por uma noite dessa, senhor Leon? Quantos curiosos irão querer saber como é comer a minha filha apenas motivados por vingança ou pela curiosidade? E agora você quer levar a minha cereja do bolo? Vamos então aumentar para 200 milhões e diminuir a porcentagem para 20% para você obter os lucros totais do faturamento.” Hanzel olhava para Leon enquanto falava relaxado fumando, como se tivesse toda a vantagem daquele homem estar cobiçando a sua filha.
“Pai, eu não estou à venda!” Aurora gritou com todas as forças.
“O que você ainda está fazendo aqui? Cala a boca, sou eu que decido o seu futuro, você está aqui agora, por escolha própria, não adianta ficar fingindo e achando que isso não aconteceria!” Hanzel levantou da cadeira, e foi indo bruscamente em direção da Aurora, gritando.
‘Por escolha própria? Como ele pode falar isso? Eu nunca vou escolher isso!’ Aurora estava furiosa ao ouvir aquelas palavras.
Quando abriu a boca pra gritar furiosa novamente ela viu de reflexo do seu pai levantando a mão para bater no outro lado da sua face novamente.
Ela fechou os olhos, e quando percebeu que não tinha sentido nada, colocou as mãos no rosto tampando pra se proteger, e entre os dedos abriu os olhos.
Era Leon que havia segurado o pulso de Hanzel impedindo que a violência acontecesse de novo.
‘Essa encenação já está indo longe de mais!’ Ele pensou consigo mesmo revirando os olhos nos seus pensamentos, e soltou o pulso do pai dela. Leon controlava o seu mal-humor.
“Senhor Hanzel, não quero mais perder o meu tempo, vamos fechar o acordo. Entregue a sua filha para mim sem mais nenhum arranhão.” Leon falou olhando para Hanzel com tom impositivo.
Hanzel estava incrédulo com a atitude de defesa de Leon, mas logo mudou de expressão ao perceber que a quantidade que havia proposto havia sido aceita.
Abriu um sorriso perverso, olhou um para os guardas e disse: “Uzi, tire ela daqui agora, e prepare ela para essa noite. Mande ela para dar um trato, depilação, cabelo, unhas e todos esses enfeites aí! Quando Ranya voltar, mande ela separar um vestido com mais cortes e que deixe o seu corpo mais amostra.”
Hanzel pegou no queixo da Aurora com um polegar, e balançou ele bruscamente: “Seja generosa com o senhor Leon, minha querida, ou as coisas vão ser muito difíceis pra você aqui. Aproveite essa oportunidade. Espero que você tenha ouvido muito bem essas palavras, pois não vou repeti-las no futuro.”
Enquanto era puxada por Uzi, ela olhou para o homem que estava negociando com seu pai, e percebeu que os olhos de Leon expressavam ódio. Ela se sentiu intimidada por aqueles olhos verdes escuros.
Aurora e Leon cruzaram os olhares. E ele começou olhá-la fixamente. Ela sentia que estava toda despida enquanto ele a encarava.
Estremeceu toda por dentro imaginando se isso realmente tava acontecendo. Depois ela caiu em si novamente, e as suas emoções lhe subiram a cabeça.
“Não! Não faça isso! Me solta! Me tira daqui! Eu não quero viver isso!” Os gritos de desespero, e o choro ecoava pela sala enquanto ela era arrastada pela força de Uzi para a saída. Ela não conseguia mais falar pois o seu choro a corrompia, então as suas palavras foram cada vez mais difíceis de serem entendidas, enquanto o corpo dela se distanciava.
Hanzel ficou olhando a filha com crueldade, enquanto ela era arrastada a força.
Apesar dele estar estranhando o pedido repentino de Leon para casar com a sua filha, ele estava muito contente em saber que o seu plano de vender a sua “pureza” já tinha dado certo em menos de um dia que ela estava no clube.
Ele não sabia que Leon tinha interesse nesse tipo de mulher, mas também não queria saber, o que aconteceu ali foi por acaso, e ele estava triunfante por dentro achando que tinha ganhado na loteria. Só queria aquele 100 milhões depositados em sua conta física bancária. Ele nunca tinha visto tanto dinheiro em toda a sua vida.
‘Aquela maldita velha podia ter morrido antes!’ Hanzel fumegou nos seus pensamentos, e voltou a olhar para Leon que ainda estava parado na sua frente.
“Fechado. Mas antes faça um contrato pré-nupcial. Não quero ter nenhuma surpresa desagradável.” Mesmo com tanto dinheiro sendo oferecido, ele queria ter certeza de que não seria burlado no futuro.
Leon bufou e disse: “Não se preocupe com isso, senhor Hanzel! Não preciso de nenhum centavo da sua herança. Afinal, eu estou investindo uma quantia muito considerável no seu negócio, e seremos uma sociedade, portanto uma mão lava a outra, certo? Não preciso expor em palavras, porque acho que o senhor entendeu muito bem o meu desejo e as minhas intenções com a sua filha. Desde o momento que a vi aqui no salão, não tirei os olhos do seu corpo…quero possuí-la.” Leon disse em um tom firme olhando nos olhos de Hanzel, havia uma frieza em seu olhar.
De qualquer forma, ele precisava convencer Hanzel que existia um desejo pulsando pela a sua filha, era normal ele estranhar a repentina situação, e o pedido de casamento.
“Senhor Leon, daqui 45 minutos você tem agendado a reunião com o gerente do projeto da construção do condomínio ‘Diamond Life’.” Freddy lembrou Leon em tom baixo se aproximando.
Leon assentiu para Freddy.
Já tinha permitido que essa reunião fosse longa demais. Essa já era a segunda vez que Hanzel teve o seu ataque de raiva, se fosse com outro, a reunião não duraria nem mesmo 15 minutos para tal projeção, pois Leon não fazia rodeios, era especificamente claro com as suas intenções e direto, mas aquela era uma questão particular.
“Freddy, peça que faça as alterações no contrato.” Leon murmurou, e Freddy se afastou e recolheu o contrato em cima da mesa.
“Voltarei hoje à noite para conhecer melhor como funciona o seu negócio, senhor Hanzel. Prepare o melhor quarto do clube, vou passar um tempo com Aurora. Amanhã de manhã um dos meus homens irá trazer todos os documentos alterados e prontos, inclusive com o casamento encaminhado. No final da manhã, nós iremos ao cartório, e a nossa negociação se concretiza por completo. Irei encaminhar a minha parte da administração para um profissional competente, ele irá supervisionar e me passar todo o relatório diário do desenvolvimento do investimento, após a injeção de caixa que vamos fazer em menos de 24 horas depois da sua assinatura, você verá os seus lucros flutuarem em poucos dias.” Leon pausou a sua fala, e percebeu que os olhos de Hanzel brilhava após ouvir a última frase. O dinheiro sempre dominou o homem que estava na sua frente. Decidiu que falar aquilo era o suficiente por enquanto.
Leon se virou, andou tranquilamente até a mesa, pegou o copo de whisky, e levantou em direção a Hanzel.
Hanzel estava em transe pensando no dinheiro que tinha conseguido com aquele acordo, ele deu um sorriso orgulhoso, e foi até a mesa e levantou o copo de whisky em direção a Leon. Os dois brindaram.
“Foi ótimo fechar negócio com você!” Hanzel não conseguia evitar o seu tom arrogante. Ele estava se sentindo poderoso, e invencível ao pensar em toda a quantia de dinheiro que estaria na sua conta nos próximos dias.
Os dois viraram todo o líquido no copo.
Leon ficou em silêncio, sorriu de canto, se virou, mexeu a cabeça em sinal para se retirar ao Freddy, e ele e mais três guardas foram em direção a saída.
Quando Leon estava para entrar no carro, se virou para Freddy e disse: “Falsifique o acordo pré-nupcial.”
“Sim, senhor Leon. Entrarei em contato imediatamente com o dono do cartório.” Após ouvir isso, Leon entrou no carro satisfeito.
Enquanto isso, Aurora estava no quarto, pensando como ainda conseguia ter lágrimas, seus olhos vermelhos ardiam, ela estava totalmente submersas as suas emoções desesperadoras.
‘Como ele pode fazer isso? Por que isso está acontecendo comigo?’ Ela se lamentava em seus pensamentos. Buscava dentro de si um único fio de esperança.
Depois de uma hora e meia tentando se acalmar, ela caiu em um sono profundo de exaustão. Ela estava sentada na beira da cama, com a cabeça encostada de lado encostada em cima do colchão, seu rosto estava todo vermelho com a maquiagem borrada pelas suas lágrimas.
Uma forte batida proposital encharcou o quarto de Aurora, fazendo ela acordar apavorada e perdida. Ela conseguiu abrir os olhos lentamente, porque eles ainda estavam grudados e pesados, logo, avistou a figura feminina em sua frente, com visão meio embaçada.